Tedros Adhanom Ghebreyesus: o diretor-general da OMS

Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da Organização Mundial de Saúde (Foto: Fabrice Coffrini/AFP)

Nascido em Asmara, Etiópia, Tedros Adhanom Ghebreyesus não consegue esquecer as mortes e o sofrimento provocados pela malária no país natal. Marcas de infância, a maior delas é a morte de um irmão, o mais novo, provocada pelo sarampo, tragédia que ainda hoje não consegue aceitar. Quando aos 23 anos, já formado em Biologia, tomou contacto com o sistema de saúde da Dinamarca, percebeu em definitivo que há sortes diferentes para crianças iguais. Dependem do lugar onde nasceram. O “sentimento de injustiça”, reforçado nos anos de Reino Unido, onde fez o mestrado (Imunologia contra doenças infeciosas), e no regresso à Escandinávia (1997, Suécia), levou à pergunta que ainda hoje coloca: “Por que morrem pessoas quando temos os meios que podem evitar essas mortes?” (Time, 2019)

Hoje, é o líder de uma das mais importantes e essenciais organizações do mundo. Considera o acesso universal à saúde um direito humano fundamental. Que fortalece as economias e diminuiu as disparidades raciais, socioeconómicas e de género. Que ajuda a manter o mundo globalizado a salvo da propagação não controlada de doenças. Mais de que nunca. Diariamente, a partir da sede da Organização Mundial de Saúde (OMS), em Genebra, reforça o alarme, anuncia números cada vez mais negros, pede aos estados – e a cada um de nós – “ações urgentes e agressivas” contra o Covid-19.

Dizem que tem “o coração ao pé da boca”. O primeiro chefe africano da OMS, que assumiu o cargo em 2017 prometendo reformar a organização e combater as doenças que matam milhões a cada ano (malária, sarampo, pneumonia infantil, HIV/Sida), é “despretensioso, encantador, muito determinado”. Durante o surto de ébola na República Democrática do Congo, visitou o território diversas vezes, para avaliar a situação e conversar com o governo local. Quando surgiram as notícias do surto de coronavírus, viajou para Pequim, mais apostado em garantir a cooperação internacional da China do que em criticar a atuação dos dirigentes daquele país. “Por vezes é demasiado político”, criticam alguns observadores da OMS, quando lhe ouvem elogios efusivos à China pelas medidas de contenção aplicadas, sem uma palavra de condenação à falta de transparência.

Antes de se tornar chefe da OMS, foi membro do governo da Etiópia. Ministro da Saúde elogiado, quebrou os números da malária e das infeções por HIV. Promoveu o planeamento familiar, investiu na saúde materno-infantil. Foi, porém, acusado de ter ocultado três epidemias de cólera, provocando, assim, mortes desnecessárias. Negou sempre. A delegação da União Africana na ONU rejeitou o relatório, publicado no The New York Times, considerando tratar-se de “uma campanha de difamação, saindo convenientemente a alguns dias das eleições”.

A escolha de Robert Mugabe, do Zimbabué, para Embaixador da Boa Vontade da OMS, vista como pagamento a favores no caminho para o cargo que ocupa, foi um forte revés na imagem de Tedros Adhanom Ghebreyesus, merecendo-lhe o título de “Ditador-Geral”. Cedeu, recuando na nomeação.

Reconhecido estudioso da saúde pública, experiente em respostas de emergência a epidemias, não suspeitava há um ano que iria viver um dos momentos mais duros da vida da OMS. Porém, lançava já o aviso. “É com sistemas de saúde fortes em todos os países que o mundo se torna seguro.”

Tedros Adhanom Ghebreyesus
Cargo:
Diretor-Geral da Organização Mundial de Saúde
Nascimento: 03/03/1965 (55 anos)
Nacionalidade: Etíope