Tancos: as armas que derrubaram um ministro

Azeredo Lopes foi constituído arguido a 5 de julho de 2019 (Foto: Álvaro Isidoro/Global Imagens)

Roubo histórico

Armas, Tancos, Azeredo Lopes. Um triângulo que não foge do fogo da polémica desde o mais célebre golpe em paióis militares em Portugal, a 29 de junho de 2017. Desapareceram cartuchos de nove milímetros, bobinas de fio, disparadores, granadas, explosivos, iniciadores e lâminas explosivas. A lista foi inicialmente revelada pelo jornal espanhol “El Español”

Crimes da polémica

Azeredo Lopes é constituído arguido a 5 de julho de 2019. Considera estar a ser vítima de uma situação “socialmente constrangedora” e mantém a inocência. É acusado pelo Ministério Público dos crimes de abuso de poder, denegação de justiça e prevaricação. Ouvido em fase de instrução pelo juiz Carlos Alexandre, ficou a saber a 26 de junho passado que vai mesmo ser julgado.

“A participação de Azeredo Lopes foi essencial em toda a engrenagem. Foi o aval de Azeredo Lopes, que tudo podia ter denunciado e impedido, que transmitiu confiança a todos os demais arguidos”
Carlos Alexandre
Juiz

Teias e contradições

Em janeiro de 2018, o Exército anuncia as conclusões de um inquérito que constatou “discrepâncias” entre o material roubado e o encontrado na Chamusca, a 18 de outubro de 2017. Meio ano depois, em julho, em sede de Comissão Parlamentar, Azeredo Lopes diz desconhecer tais diferenças, mas em setembro, também no Parlamento, admite não ter a certeza. Ainda em setembro, são detidos oito suspeitos, entre eles Luís Vieira, diretor da Polícia Judiciária Militar (PJM). É pedida a detenção de Vasco Brazão, porta-voz da PJM em missão na República Centro-Africana.

Encenação fatal

Depois de semanas a fio a segurar o ministro da Defesa, mesmo após considerar “haver muita coisa a esclarecer sobre Tancos”, o primeiro-ministro, António Costa, acaba por aceitar a demissão de Azeredo Lopes a 12 de outubro de 2018. Nas semanas anteriores, o escândalo ganhara novos contornos quando a comunicação social noticiou que Azeredo sabia da encenação da recuperação do material roubado através de um memorando a que o seu chefe de gabinete teve acesso.

23 arguidos vão a julgamento. Nove são acusados da autoria material do roubo em Tancos, os restantes, entre eles Azeredo Lopes, de terem forjado a recuperação do armamento desaparecido e prejudicado e interferido na investigação levada a cabo pela Polícia Judiciária.