Semáforos: anarquia controlada

Primeiro semáforo com o aspeto atual, em 1914, em Cleveland, nos Estados Unidos

Na segunda metade do século XIX, o tráfego de veículos movidos a tração animal era um problema enorme em Londres, capital do Reino Unido. As ruas da cidade testemunhavam confusões que a polícia tinha dificuldade em controlar, com condutores, peões e os próprios agentes apanhados no meio do turbilhão. Os responsáveis municipais estudaram soluções que permitissem acabar com o flagelo. Surgiu, então, a sugestão do primeiro semáforo de luzes, um rudimentar aparelho a gás pensado pelo engenheiro J. P. Knight, inspirado nos mecanismos de sinalização do sistema ferroviário. Viria a ser instalado, em 1868, na Bridge Street, na Great George Street e na Parliament Street, três ruas situadas nas imediações do Palácio de Westminster, a casa do Parlamento, conhecidas por serem das mais movimentadas. A experiência não correu como o esperado e o inovador aparelho acabou por explodir poucos meses depois de entrar em funcionamento, ferindo com gravidade o polícia que manualmente alternava a luz verde com a vermelha.

Suspenso temporariamente, o semáforo só voltaria a ser usado no século XX, do outro lado do Oceano Atlântico. Em Nova Iorque e Cleveland, nos EUA, onde, tal como em Londres, a anarquia do tráfego era assustadora, o sistema foi adotado na década de 1910. Outras cidades americanas seguiram-lhe o exemplo e, com o advento do automóvel, muitos foram também os países da Europa que adotaram a mesma estratégia. Como a Alemanha, onde Berlim viu nascer torres orientadoras do trânsito nas principais artérias.

A novidade demorou, porém, a chegar a Portugal. Segundo o livro LX70, de Joana Stichini Vilela, Nick Mrozowski e Pedro Fernandes, os primeiros semáforos coloriram Lisboa em 1971, em Campo de Ourique. A rede foi alargada pela cidade até ao final desse ano, à medida que foi aperfeiçoado o computador central da Câmara Municipal responsável pela monitorização do trânsito. O resto do país começou, também, a receber a boa nova que substituía a ação dos polícias sinaleiros e a palavra semáforo, originária dos termos gregos “semos” (sinal) e “phorós” (o que é trazido), entrou na linguagem comum.