Rita Covas: bióloga todo-o-terreno

Rita Covas ganhou uma bolsa do Conselho Europeu de Investigação (Foto: Artur Machado/Global Imagens)
O que faz evoluir a cooperação? E o que a mantém de pé? Rita Covas, do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos da Universidade do Porto (CIBIO-InBIO), está focada nessa matéria e ganhou uma bolsa do Conselho Europeu de Investigação. São dois milhões de euros que dão para contratar estudantes e técnicos, comprar câmaras e computadores, fazer análises genéticas, entre outras coisas. A investigadora, de 49 anos, natural do Barreiro, está no grupo restrito dos quatro cientistas que trabalham em Portugal contemplados com esse apoio atribuído apenas a cientistas de topo, doutorados, com sete a 12 anos de experiência.
Serão mais cinco anos na savana africana a analisar a cooperação entre indivíduos da mesma espécie – uma ave, neste caso. “A questão central do projeto é investigar se os indivíduos mais cooperativos são preferidos como parceiros sexuais, para reprodução, ou sociais, isto é, têm maior probabilidade de fazer parte de um grupo e logo menos probabilidade de andarem sozinhos.” “Pretendemos investigar se a escolha de parceiro é um mecanismo importante para a evolução e manutenção da cooperação em sociedades animais”, explica.
O tecelão sociável é o modelo de estudo. Uma espécie de ave altamente cooperativa da África austral, que vive nas savanas áridas do Kalahari, entre África do Sul, Namíbia e Botswana. Os tecelões são pequenos em tamanho, pouco maiores do que um pardal comum, podem viver mais de dez anos e, em conjunto, constroem uma enorme estrutura onde cada família faz o seu ninho. “É muito interessante do ponto de vista colaborativo porque contribuem para o bem comum.” Alimentam as crias, limpam os ninhos, detetam predadores e afastam-nos. Tudo em conjunto. Há mais de dez anos que Rita segue o tecelão sociável. E vai continuar a fazê-lo.
O fascínio pelo mundo natural vem desde pequena. Cresceu e enquadrou a paixão como tinha de ser. Tirou o curso de Biologia na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, no terceiro ano colaborou com o então Instituto da Conservação da Natureza para ganhar experiência, no quinto ano fez Erasmus em Montpellier, no sul de França, envolvida na biogeografia das aves do Mediterrâneo.
O seu primeiro projeto de campo centrou-se nas aves marinhas em São Tomé e Príncipe. Tirou o doutoramento na Universidade da Cidade do Cabo, na África do Sul. Em 1998, com 28 anos, estava na ponta sul do continente africano. Seguiu-se o pós-doutoramento no Instituto de Biologia Evolutiva da Universidade de Edimburgo, Reino Unido, voltou a Montpellier, onde ficou dois anos, regressou a Portugal, é investigadora no CIBIO-InBIO e dá aulas na universidade.
Aprecia o que a faz pensar. “A ideia de observar uma coisa, o que está por trás, o que faz com que seja assim, é fascinante. Colocar uma hipótese e verificar se está certa ou errada é entusiasmante”, afirma. Mesmo nos trabalhos de rotina, há coisas novas que vai descobrindo e que lhe desassossegam o cérebro. Quer perceber como funciona o mundo à volta. “Tenho um grande interesse no trabalho de campo.” Em agosto, estará na savana africana. Como, aliás, gosta de estar.