Ricardo Mexia: médico e dançarino

Ricardo Mexia é presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública (Foto: Orlando Almeida/Global Imagens)

Quem quiser vê-lo feliz é ir ao Andanças, um festival internacional de danças e músicas de inspiração tradicional, que se realiza em agosto, em Portugal. Chapelloise, scottish, forró, rondeau, gavotte, rachenitsa, cercle circassien ou bourrée – Ricardo Mexia domina as modalidades e, não sendo executor exímio, é praticante esforçado. “Diverte-me muito e é muito libertador”, confessa. “Não envergonha ninguém”, garante Salete Felício, a melhor amiga.

A escultora e o médico conheceram-se eram ainda universitários. Ligou-os a Expo 98, onde fizeram voluntariado. “É um voluntarista”, diz a amiga. Já médico, trabalhou no Euro 2004 e na final da Liga dos Campeões realizada em Lisboa, no seu estádio da Luz, acompanhando os jornalistas estrangeiros, não falasse ele inglês, espanhol, francês, norueguês e alemão. Ou não lhe faltasse “o dom para comunicar”.

A medicina foi decisão tardia. Filho de uma médica e de um engenheiro químico, ambos alentejanos, chegou a ponderar a informática. “Em boa hora arrepiou caminho”, sublinha quem o conhece. “É um médico competentíssimo, que adora o que faz.” Hoje, médicos são o que não faltam na família: ele, a mãe, a mulher e o irmão, onze anos mais novo.

Filho único durante uma década, foi uma criança “muito disciplinada e pacata”. Viajada e aberta à diferença. Lisboeta, deu os primeiros passos na Amadora. Fez a 3.ª e a 4.ª classes em Bissau. 8.º ano em Luanda. Na faculdade, perdeu a pacatez, a introversão e as melhores notas. Aderiu às praxes académicas, ganhou a presidência da associação de estudantes. Associativismo e viagens eram o que então mais lhe interessava. “Sempre teve protagonismo. Porque é muito convicto e seguro a defender as suas posições”, destaca Salete Felício. “Acho que tinha alguma capacidade de liderança e, sobretudo, muito entusiasmo”, admite Ricardo. Destacava-se ainda pelo gosto musical – a eletrónica – e pela abstémia. “Sempre que se pediam seis imperiais e um Sumol de Laranja, a minha bebida favorita, era risota geral”, conta. Durante dois anos (2009-2011) estudou e trabalhou na Noruega, conquistando uma oportunidade exigente. Regressou a Portugal com a troika instalada e quando muitos da sua geração emigravam.

A política é outro interesse. Nas últimas autárquicas, foi candidato pelo PSD à junta de freguesia do Lumiar, aonde vive. Perdeu. Porém, Jorge Roque Cunha, social-democrata, ex-deputado e secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos, vê-lhe futuro. “Tem talento para ser um político profissional e para um dia assumir funções nesse âmbito. Mas quis investir primeiro na profissão.” Sem “nunca deixar de ajudar o partido, ainda que em atividades mais discretas”.
Ricardo Mexia não esconde a autoestima. “Por vezes pode até ser um pouco vaidoso, mas nunca é arrogante”, observa a amiga escultora. “É muito seguro e afirmativo, mas também sabe respeitar e defender a posição maioritária, ainda que não seja a dele”, elogia Jorge Roque Cunha.

A covid-19 trouxe-lhe solicitações das televisões e jornais. O mediatismo não lhe desagrada. “Mas também não o deslumbra.” Médico de Saúde Pública do Departamento de Epidemiologia (DEP) do Instituto Ricardo Jorge e Presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública, tem três filhos, de três, quatro e seis anos. “Um trabalho a tempo inteiro”, diz ao telefone. Suspira: acabara de convencer o mais novo a dormir uma sesta.

Ricardo Filipe Barreiros Mexia
Cargo:
Presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública
Nascimento: 04/08/1978 (41 anos)
Nacionalidade: Portuguesa (Lisboa)