Regina Duarte: “Eu já fiz de morta em novela e é divertido”

Regina Duarte é secretária especial da Cultura do Brasil (Ilustração: Mafalda Neves)

Esta semana a nossa convidada é a secretária especial da Cultura do Governo de Bolsonaro, a atriz, ou ex-atriz, Regina Duarte. Olá, Regina. Sabe que nós cá em Portugal temos uma atriz muito parecida consigo.
Com muito talento?

Não, muito fascista. É a Maria Vieira.
Não conheço. Mas se é fascista é boa pessoa.

Você passou de Rainha da Sucata para Rainha da Suástica. Foi um grande salto. Como é que lhe passou pela cabeça aceitar o convite do Bolsonaro para secretária da Cultura? Achou que estava à altura do papel?
Sim, como o Bolsonaro não liga nada à cultura achei que não tinha que fazer grande coisa e aceitei.

Durante o discurso da sua tomada de posse a senhora disse que “cultura é o pum do palhaço com talco”.
Pois foi, foi um sucesso essa minha frase.

Sim, a aerofagia é muito importante na arte. Estava capaz de lhe pedir para tocar o hino do Brasil só com puns, mas acho que o Brasil já está a sofrer que chegue. Sabe que eu quando a oiço falar o que me apetece é a cena do estalo do palhaço.
Ai, eu adoro essa cena do estalo do palhaço. É hilariante. Melhor só mesmo o estalo a sério dos torturadores no tempo da ditadura. Saudades desse Brasil.

Calma, já estão quase lá outra vez. Na sua entrevista à CNN, a senhora cantou uma música desses tempos, cheia de alegria, e perante a estupefação do entrevistador que disse “mas havia tortura e morreu muita gente”, a senhora respondeu “sempre morreu gente”…
Sim, há vida e depois há morte. É natural.

Sim, mas morte por fuzilamento, por choques elétricos, por afogamento forçado, por enforcamento, não é propriamente o mesmo que ter um ataque cardíaco.
Quer dizer, ficam todos na mesma. Ah, ah, ah. Como lá chegaram pouco interessa, né? Eu já fiz de morta em novela e é divertido.

Sabe que para muita gente foi uma surpresa perceber quem realmente você era na vida real. Você faz muito melhor de vilã na vida real do que alguma vez de boazinha nas novelas. Se bem que, não leve a mal, você sempre me irritou muito como atriz. Acho que tudo o que possa fazer agora no Governo do Bolsonaro não me consegue irritar tanto como o seu histerismo a fazer de Porcina. E agora vou dar um pum só para trazer um pouco de cultura para esta entrevista. Com licença…

Cultura da ditadura

A secretária especial da Cultura do Brasil, a atriz Regina Duarte, minimizou a censura e a tortura durante a ditadura que vigorou no país entre 1964 e 1985, e afirmou que a covid-19 “trouxe uma morbidez insuportável”.
“Se ficar a cobrar coisas que aconteceram nos anos 1960, 1970, 1980, nós não vamos para a frente. (…) Sempre houve tortura, não quero arrastar um cemitério”, disse Regina Duarte, 73 anos, em entrevista à CNN Brasil.
A secretária falava sobre ter aceitado integrar o Governo de Jair Bolsonaro, que considera “heróis” alguns dos envolvidos em casos de prisão e tortura na ditadura militar.