Quénia, o país das mãos de chá

Portfólio/Global Imagens, no Quénia

Parecem pequenas formigas perdidas no imenso verde de Kapkoya River, no Quénia. São homens e mulheres, trabalhadores imensos que recolhem plantas de chá, dia após dia, sol após sol, jorna após jorna. Sem máquinas que os ajudem, tudo à mão, dezenas de mãos que laboriosamente, cesto de verga sempre às costas, arrancam folhas que darão infusões quase alquimistas pelo Mundo fora. Sem ajuda de um único auxílio mecânico, tudo levado à regra de rituais antigos, como se fosse obrigação sagrada que protege a terra. Ritual de sempre com os ritos de sempre.

O Quénia é o terceiro produtor mundial de chá, o maior de todo o continente africano. Anualmente, produz 440 toneladas, a grande maioria exportada para todas as paragens do Mundo. Noventa por cento das folhas são plantadas em quintas de pequenas dimensões, como a de Kapkoya River.

Ciente da importância do chá na economia nacional, o Governo queniano levou a cabo nos últimos anos um programa de modernização tecnológica com vista ao desenvolvimento das plantações. Mas não esqueceu quem prefere não trocar os métodos de sempre pela inovação e ofereceu-lhes também incentivos. À maioria, portanto.

Em termos globais, o Quénia só perde em matéria de produção de chá para a China (mais de dois milhões de toneladas anuais) e para a Índia (1,3 milhões), países substancialmente superiores em termos de área territorial e de mão de obra, praticamente inalcançáveis em matéria de competitividade. Mas ganha a larga distância ao concorrente mais direto e quarto produtor mundial, o Sri Lanka, que apenas se fica pelas 350 toneladas produzidas anualmente. E com vantagem maior ainda sobre o Vietname (apenas 260 toneladas).

Dados da East African Tea Trade Association mostram que as plantações de chá no Quénia mais do que duplicaram nos últimos 20 anos. E a tendência é para aumentarem mais ainda na próxima década. À mão, sempre à mão. No país onde todas as mãos são de chá.

Texto de Pedro Emanuel Santos