Pulmão, esse órgão tão delicado. O que lhe faz bem e o que lhe faz mal?

Atuar o mais cedo possível é fundamental

Novembro é o mês de sensibilização para o cancro do pulmão. Por ano, no nosso país, são registados 5200 novos casos e 70% das situações são detetadas numa fase avançada.

O pulmão é um órgão delicado e extremamente sensível porque está em contacto imediato com o meio externo. E, por vezes, inspira-se o que não é adequado e não há uma barreira protetora. O que faz com o corpo esteja à mercê da entrada de elementos tóxicos sem qualquer impedimento, sem quaisquer restrições. Por isso é que a saúde dos pulmões é tão importante.

O que fazer para ter pulmões saudáveis? O que é preciso evitar? “Os pulmões, para serem saudáveis, têm de estar limitados às fontes de poluição, sendo de adotar um estilo de vida saudável, com uma alimentação equilibrada e a prática de exercício físico”, responde José Miranda, cirurgião torácico da Unidade de Cirurgia Cardíaca e Torácica da Casa de Saúde da Boavista, no Porto. Além disso, acrescenta, “a redução do consumo de tabaco é fundamental, procurando evitar também ambientes em que os cigarros e outros fatores poluentes alterem a qualidade do ar”.

Todos os cuidados são poucos. “Como um diagnóstico precoce é fundamental, é importante fazer exames com regularidade. Isto porque, se for detetada alguma anomalia num quadro precoce, a probabilidade de não atingir outros órgãos e de ser tratado mais depressa e com melhores resultados é maior”, refere o cirurgião torácico.

A qualidade do ar tem um impacto tremendo na saúde e bem-estar dos pulmões e o tabaco é um dos seus piores inimigos. Mas há outras circunstâncias. “Outra situação que importa referir é a utilização de amianto (fibra natural que suporta altas temperaturas sem arder, durável e flexível) na construção de diferentes espaços públicos, incluindo escolas. Uma escolha justificada pelo preço e pelas propriedades isoladoras térmicas. Contudo, a utilização de amianto e de produtos que o contenham pode, pela libertação de fibras, causar asbestose, mesotelioma e cancro do pulmão”, adianta José Miranda. “Apesar de estar aprovada e planeada a sua remoção dos edifícios públicos, onde foram largamente utilizados na década de 1960 e 1970, o processo continua moroso e longe da rapidez desejada”, sublinha.

Cerca de 70% dos casos de cancro do pulmão são diagnosticados numa fase avançada da doença

O tabaco é comprovadamente o principal fator de risco para o cancro do pulmão, responsável por mais de 80% dos casos. O tabaco danifica as células dos pulmões. Em 2018, segundo a Organização Mundial de Saúde, registou-se uma prevalência de uso de tabaco de 27,9% (33,3% entre os homens, 32,4% entre as mulheres), tendo sido responsável por cinco mil mortes associadas ao cancro do pulmão, em Portugal.

Avisos não faltam, o tabaco faz mal à saúde, os pulmões sofrem com isso. Segundo José Miranda, apesar de terem sido elaboradas políticas de cessação tabágica e de consciencialização da população para os efeitos do tabaco, que levaram a uma redução gradual das curvas de incidência do cancro do pulmão, “os números revelam que nas sociedades ocidentais entre dois e três em cada dez adultos são fumadores ativos”. “Paralelamente a este cenário, é importante realçar uma mudança de padrões geográficos e temporais, associados à disparidade entre os géneros. Em que, atualmente, há evidência de uma curva de incidência em novos casos de cancro do pulmão em mulheres”, realça.

A referenciação dos doentes deve ser feita até 30 dias desde a deteção de um nódulo pulmonar suspeito

Todos os cuidados são poucos. O cancro do pulmão continua a ser a principal causa de mortalidade por tumores malignos em Portugal, são registados 5 200 novos casos todos os anos. Novembro é o mês de sensibilização para o cancro do pulmão. E quando se fala das doenças mais graves do pulmão fala-se de doenças oncológicas e de patologias com degradação da função respiratória.

Nas oncológicas, o tratamento é realizado de acordo com o tamanho do tumor, envolvimento ganglionar e metastização. “A cirurgia é o tratamento de eleição nos estádios precoces, possibilitando uma terapêutica potencialmente curativa. Contudo, esta é uma realidade que nem sempre acontece, visto que a grande maioria dos doentes chega já em estados avançados e apenas 20% dos doentes é que podem ser operados”, refere o especialista.

Uma abordagem multidisciplinar é sempre importante, é fundamental que a equipa de cirurgiões, oncologistas, pneumologistas e radioterapeutas, decida em conjunto o tipo de tratamento isolado ou em associação para cada caso. “Em estádios avançados, a cirurgia com ressecção pulmonar não demonstra ter efeitos benéficos na sobrevida dos doentes, sendo de considerar terapêutica com quimioterapia, radioterapia e, mais recentemente, imunoterapia. Tendo sempre como objetivo a sobrevida e a qualidade da mesma nos doentes.”

É possível viver apenas com um pulmão, desde que o outro esteja bem, o que pode ser avaliado com uma prova funcional respiratória e prova de esforço

Relativamente à função respiratória tipo DPOC (Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica), enfisema ou infeção crónica, o tratamento é sobretudo médico e deve ser adaptado à realidade de cada doente, podendo passar por reabilitação pulmonar, antibioterapia quando necessário, oxigenoterapia se indicado e, em última linha, transplante pulmonar.

Um diagnóstico e tratamento precoces permitem um tratamento menos invasivo, em que o doente passa por um pós-operatório menos doloroso, não fica tanto tempo internado, tenha uma recuperação funcional mais positiva e, consequentemente, um rápido retorno à atividade normal.

É possível viver apenas com um pulmão, tal como acontece com os rins. José Miranda explica que “esta é uma realidade que não afeta as tarefas do dia-a-dia ou a expectativa de vida, com exceção de algumas limitações na prática de exercício físico.” “Este é um cenário que podia acontecer no caso do cancro do pulmão operado, mas já é uma abordagem pouco realizada”, refere o cirurgião. No entanto, é importante que o outro pulmão esteja bem e a sua função deve ser avaliada pela prova funcional respiratória e prova de esforço. “Um cenário que pode ser prevenido pelo consumo de tabaco ou outros fatores que levem à destruição pulmonar”, avisa.