Os produtos naturais provenientes das colmeias possuem propriedades surpreendentes. E ajudam o corpo humano a reconciliar-se consigo próprio graças à imensidão de capacidades que oferecem. A culpa é das abelhas. Culpa boa, claro está.
“Se as abelhas desaparecerem, a Humanidade terá apenas quatro anos de vida. Porque sem abelhas não há polinização nem reprodução da flora. Ora, sem flora não há animais e sem animais não haverá raça humana.” A sentença foi proferida pelo cientista Albert Einstein (1879-1955) e diz muito sobre as capacidades destes insetos com mais de 25 mil espécies conhecidas em todo o Mundo e que associamos quase unicamente à produção de mel. Mas nem tudo o que vem da colmeia é o mel que podemos encontrar comummente no mercado, seja no mais convencional ou no especializado em artigos biológicos. De facto, da colmeia podem ser extraídas outras valências nutritivas, menos conhecidas mas que (devagar) têm conquistado carinho na procura dos consumidores. Destas, há três que se destacam nas preferências.
“A própolis e o pólen são os mais comercializados no mercado nacional, além da geleia real”, diz António Hermenegildo, médico e presidente da Sociedade dos Apicultores de Portugal. Afinal, o que têm de segredo para a saúde estas autênticas preciosidades naturais que as abelhas nos dão? “O pólen é quase que como um antibiótico, além de anestésico e cicatrizante, com 15 a 35% de proteínas. A geleia real é rica em suplementos alimentares e a própolis tem, também, fortes capacidades nutritivas”, destaca o responsável, na sua dupla qualidade de clínico e especialista na arte da apicultura.
“O pólen assemelha-se visualmente a pequenas sementes amarelas que devem ser ingeridas duas vezes por dia, uma ao acordar e outra à noite, com o objetivo de reforçar as defesas naturais do corpo”, explica, por sua vez, Inês Guimarães, da Bionutrir, loja de produtos naturais no Porto. Pode ser consumido diariamente, espalhado em fruta, e possui propriedades nutritivas ricas para a saúde e difíceis de achar noutros alimentos. “Contém 21 aminoácidos, mais do que os que podem ser encontrados na carne ou no peixe. Elimina toxinas do fígado, purifica o sangue e é bom para prevenir problemas de próstata”, reforça Irene Teixeira, responsável pela Apiagro, empresa de produção agrícola biológica com 31 anos de atividade, base em Torres Vedras e espaços também em Vila Nova de Cerveira, Guimarães e Ponte de Lima.
A geleia real, substância segregada pelas abelhas operárias e que se constitui como alimento exclusivo das abelhas-rainhas, é metade constituída por água e a outra metade por proteínas, hidratos de carbono, gorduras, vitaminas e minerais. “É excelente para a renovação das células, ideal para quem se sinta cansado ou com sinais de depressão”, menciona Irene Teixeira. “Basta consumi-la em jejum durante o período de uma semana para se sentir a diferença em termos de energia.”
A própolis, “resina extraída em grelhas que depois são congeladas”, como detalha o produtor Jorge Fernandes, da BioApis – Apicultura Biológica, de Vimioso (Trás-os-Montes) tem como propriedades principais o reforço das defesas naturais do corpo humano, ideal para temporadas de clima frio propícias a inflamações de garganta e outras. “Tem ainda claros benefícios antioxidantes e de reforço imunitário. Aliás, a própolis é a própria muralha natural das colmeias, que impede a progressão de parasitas”, lembra Jorge Fernandes.
Devagar se tem ido ao longe
Apesar de o mel continuar a dominar as preferências, “tem sido evidente uma crescente procura” deste género de soluções naturais. “Os consumidores procuram produtos não adulterados, biológicos e sujeitos a normas muitíssimo restritas que lhes garanta
m qualidade”, enuncia Inês Guimarães. “O grande problema dos derivados da colmeia vendidos nos estabelecimentos convencionais é que os apicultores alimentam as abelhas com açúcar branco para produzirem mais mel, o que adultera substancialmente a qualidade do produto final.”
Os preços dos produtos retirados das colmeias que não o mel, esses, é que ainda estão longe de poderem encaixar na palavra acessível. “Não são baratos”, admite Inês Guimarães. Por exemplo, uma embalagem com 270 gramas de própolis ronda os 8 euros, 230 gramas de pólen multifloral custam 9 euros e 270 gramas de geleia real também pouco menos do que 10 euros”, desfia.
Para lá do pólen, da própolis e da geleia real e, claro, do mel, as colmeias fornecem outras surpresas ainda por explorar. É o caso da apitoxina, um veneno das larvas que pode tratar dores musculares, com poderes regenerativos, e da própria cera, que possui propriedades que ajudam à cicatrização de problemas de pele. Como resume António Hermenegildo, da Sociedade dos Apicultores de Portugal, “a colmeia é um autêntico manancial de produtos naturais benéficos para a saúde”. Um universo de caminhos a explorar a bem do corpo humano, portanto.
Ele andam em todo o lado
Além de produtos naturais que servem como comprovados suplementos alimentares de reforço para a saúde humana, as colmeias oferecem derivados que podem ser encontrados nas mais variadas soluções. Em cosméticos, por exemplo. Marcas internacionais, que podem ser encontradas em Portugal, apostam no mel como base dos seus compostos naturais. A Farm to Fresh é uma das marcas que aposta forte neste tipo de soluções, que colocam de parte os químicos e privilegiam como base tudo o que possa ser encontrado na natureza. Além de produtos para a pele, há ainda champôs e sabonetes que utilizam o mel como fortificante natural, de modo a oferecer opções saudáveis para a higiene quotidiana. Mas não se ficam por aqui os benefícios das colmeias e das abelhas que as habitam e nelas trabalham laboriosamente. Já ouviu falar da apiterapia? Trata-se de uma técnica medicinal que tem como base tudo o que é proveniente da abelha, inclusive o veneno, e que já é praticada em diversas clínicas em Portugal, conquistando adeptos gradualmente. Através de picadas de abelhas é gerado um analgésico natural que proporciona o reforço do quadro imunitário geral. Ideal para pessoas com problemas musculares e articulares, e com doenças degenerativas como esclerose múltipla ou artrite reumatoide.