Pedalar a dois… ou mais

Adriano da Silva, sócio-gerente da TT3ways, loja de aluguer de bicicletas no Porto, tem justificações para a pouca popularidade dos tandens em Portugal. “Trata-se de um modelo holandês e que, na verdade, se adapta a esse país, mais plano e onde as vias são mais próprias para o ciclismo. Talvez por as nossas cidades serem mais acidentadas, não vejamos o mesmo por cá, andar a subir e a descer com um veículo daqueles não é fácil.” E o custo, claro. “As pessoas têm curiosidade, vêm cá experimentar, mas não compram um tandem a menos que tenham mesmo razões para isso. É dispendioso.”

Ainda assim, antes da pandemia, havia alguma procura: “No ano passado, por esta altura, o tandem saía praticamente dia sim, dia não. Agora, o negócio está mais fraco, deve ter saído umas sete ou oito vezes neste mês [de julho]”. A TT3ways dispõe de um desses veículos, com dois lugares, maioritariamente procurado por casais. Quase sempre estrangeiros. Mas, recentemente, começou a receber outro tipo de clientes: “Nos últimos meses, aos sábados, vem cá um colaborador da ACAPO (Associação dos Cegos e Amblíopes de Portugal), com uma pessoa cega, e levam um tandem, dão uma volta de duas horas, e agora queremos começar a trabalhar com eles de forma mais frequente”.

Ana Pereira, do projeto Cenas a Pedal, confirma que os tandens têm muito para oferecer a pessoas com cegueira ou alguma limitação na mobilidade: “Permite a pessoas que estão impossibilitadas de conduzir uma bicicleta, por algum distúrbio que afete o seu equilíbrio, ou as suas capacidades motoras, desfrutar de um passeio de bicicleta à mesma”, diz.

Na loja lisboeta, existem veículos de dois e de três lugares. A venda é esporádica e quem as procura são quase sempre famílias, sobretudo as que têm um elemento com necessidades especiais. “Existem os tandens convencionais e os reclináveis, em que uma pessoa vai a conduzir e a outra vai ‘encostada’. Também há modelos que funcionam muito bem, por exemplo, para crianças autistas, em que o assento da criança é o da frente e o condutor vai atrás como que a ‘abraçar’ a criança. Essas duas opções garantem um acompanhamento e uma comunicação mais eficaz”, realça a cofundadora da Cenas a Pedal, que também é instrutora de condução de bicicleta e monitora de atividades com crianças.