Pé diabético. Picadas e formigueiro. O que fazer?

As respostas para o pé diabético podem passar por tratamentos preventivos, controlo de sintomas e tratamento de feridas (Fotos: PxHere)

Em Portugal, cerca de três milhões de pessoas têm diabetes ou pré-diabetes. É um dos países europeus com taxas de prevalência mais elevada. Neste momento, estima-se que 20 a 25% das admissões hospitalares dos diabéticos aconteçam devido ao pé. O pé diabético é, na verdade, uma grave complicação da diabetes e é a causa para mais de mil amputações dos membros inferiores. Uma em cada sete pessoas com diabetes irá ter uma úlcera de pé ao longo da vida.

“A Organização Mundial da Saúde define o pé diabético como toda a infeção, ulceração e ou destruição dos tecidos profundos associada a anormalidades neurológicas e vários graus de doença vascular periférica nos membros inferiores. Contudo, muitos peritos consideram existir pé diabético quando já se manifestam algumas complicações no pé, causadas pela diabetes, como a perda de sensibilidade (neuropatia) e alterações da circulação arterial (doença arterial periférica)”, adianta Luís Gardete Correia, médico endocrinologista.

Uma das dificuldades é que os sintomas, inicialmente, podem não ser percetíveis, tal como na diabetes. Por isso, é importante que os diabéticos façam um rastreio anual para despiste do risco. “Quando surgem os sintomas é porque as complicações já estão instaladas e pode ocorrer dormência ou desconforto noturno, descrito pela maioria das pessoas como picadas, ardor, calor, formigueiro, dor inexplicável e cãibras, entre outros (neuropatia)”, refere Luís Filipe Prata, enfermeiro especialista em pé diabético.

“No caso da neuropatia, poderão ainda ser visíveis dedos em garra, um pé quente e rosado, e calosidades com tendência a ferimento. A pessoa com pé diabético também pode sentir cãibra na perna quando está deitada ou quando caminha. Neste caso, a cãibra que se repete durante uma caminhada pode ser preditor de problemas circulatórios (doença arterial). Poderá ainda ser visível um pé frio e, tendencialmente, roxo-azulado”, acrescenta o enfermeiro.

As respostas para o pé diabético podem passar por tratamentos preventivos, controlo de sintomas e tratamento de feridas. Segundo Luís Gardete Correia, há possibilidade de serem realizadas quiropodias, ou seja, tratamentos de calosidades e de unhas, entre outras intervenções. “Há ainda a construção de ortótese, sobretudo plantares (palmilhas adaptadas) e calçado, para pés com deformidades, ou necessidade de compensação”, revela. “Na doença arterial, é possível a avaliação e intervenção de angiologia que, em muitos casos, pode reverter e aumentar o fluxo circulatório”, completa Luís Filipe Prata.

O Alentejo é das regiões do país que mais sofre com o pé diabético. No ano passado, a Associação Protetora dos Diabéticos em Portugal (APDP) lançou um projeto de Intervenção em Lares e Centros de Dia no Pé Diabético (PEDIAP), em três concelhos do Alentejo: Alcácer do Sal, Montemor-o-Novo e Vendas Novas. Durou um ano e teve como objetivo prevenir e controlar o pé diabético através de cuidados de podologia, promovendo a diminuição de feridas e amputações. A intervenção incluiu o rastreio com classificação do risco de lesões, tratamentos necessários aos casos de médio e alto risco, e sensibilização e educação dos cuidadores formais e informais. Ao todo, foram rastreadas 334 pessoas.

O projeto focou-se no diagnóstico, planeamento de intervenções e na implementação de ações de avaliação, prevenção e tratamento do pé diabético de utentes com diabetes de 18 Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS). “Com este projeto concluímos que 82% dos utentes participantes apresentavam médio a alto risco para desenvolverem feridas”, revela o médico.

Nesse sentido, a APDP planeou a intervenção de cuidados preventivos ou tratamento de feridas. Os cuidados foram otimizados através de, adianta o enfermeiro, “cuidados especiais e especializados de proximidade, prevenção de feridas e amputações, tratamento e cura de feridas, minoração do dano, envolvência dos recursos locais, transmissão de conhecimento e sensibilização para problemas desvalorizados, formação e capacitação de cuidadores formais e informais.”