Os sete pecados capitais do endividamento (e como não cair em tentação)

É um dos piores pesadelos das famílias. O endividamento, a corda ao pescoço, dívidas atrás de dívidas, insolvências e penhoras. Há formas de evitar a desgraça. Conselhos a reter ao longo do ano, e para o resto da vida. Os sete pecados capitais estão na fotogaleria que se segue.

Uma comprinha aqui, outra comprinha acolá. Uma conta para pagar, dívidas que se acumulam, o dinheiro que não estica e não chega para tudo. As dores de cabeça aumentam e o endividamento torna-se um cenário provável. E o alarme dispara quando as despesas fixas ultrapassam 70% do salário ou rendimento mensal. “A taxa de esforço da família, ou seja, o rendimento que a família tem disponível para fazer face às despesas mensais, não deve ser superior a 30%. Caso contrário, facilmente pode ocorrer um outro sinal de alarme: o primeiro atraso no pagamento de obrigações”, adianta à NM a economista Florbela Oliveira, especializada em recuperação financeira e social.

Quando começa, pode não parar, como uma montanha de dívidas sem fim. “O endividamento é uma bola de neve: começa por um atraso numa obrigação e, quando não travado de imediato ou a tempo, avança para a falta de pagamento das despesas básicas e o pedido de crédito para liquidar crédito”, refere a especialista.

O desemprego é a primeira causa de rutura financeira das famílias. O orçamento emagrece significativamente e não há como cumprir compromissos financeiros assumidos. “O desemprego e a pobreza não são, necessariamente, causa e consequência, mas intercetam-se de forma evidente.” “O desemprego é um autêntico polvo: além da questão económica, envolve questões sociais, psicológicas. E, saliente-se, os desempregados são um grupo socialmente muito heterogéneo – desde os jovens que têm dificuldade em conseguir um posto de trabalho, aos adultos, que pelo facto de perderem o seu emprego, contribuem muitas vezes para a rutura financeira do seu agregado familiar”, sublinha.

Há procedimentos essenciais que podem evitar o endividamento. Fazer um orçamento é uma medida básica e que não requer conhecimentos de Excel. “Basta um papel e uma caneta para anotar as receitas (rendimentos) e as despesas. Só assim pode ter noção dos riscos financeiros que corre e das formas de o corrigir”. Permite também saber e decidir onde cortar. Poupar, ter um pé-de-meia, é fundamental. Para Florbela Oliveira, um fundo de emergência deverá ser equivalente a quatro a seis salários mensais do agregado porque os imprevistos acontecem.

Controlar as contas, comparar e comparar, fazer contas. “Será que necessito desta potência contratada de eletricidade – como baixar a fatura? Será que este seguro é o mais económico e o mais útil para mim? Contas bancárias – quanto estou a pagar de comissão? Vale a pena ter várias contas em diversos bancos? Atualmente é possível encontrar sites na internet que lhe permitem comparar custos e poupar dinheiro”, revela a economista. Os ciclos de contagem bi-horário das máquinas de lavar roupa permitem poupar 20 euros por ano. E é importante estar informado. “Informação é poder – ler, informar-se sobre como evitar o endividamento é meio caminho andado.”

As consequências do endividamento para o bem-estar e saúde psíquica de uma família são gravíssimas. Não é fácil lidar com esta situação. Por muitas razões. “O endividamento implica ações de renegociação dolorosas e burocráticas, sendo muitas vezes a insolvência o caminho judicial para evitar processos executivos. É uma situação que desestabiliza uma família, desencadeia stresse, ansiedade, depressão, separações. Muitas das vezes, a estabilidade financeira é difícil de recuperar.”

Apesar de tudo, é possível lutar, renegociar e recomeçar. “Até à insolvência, há uma batalha a travar – muitos dos bancos preferem renegociar a dívida com um cliente comprometido com a obrigação do que perder todo montante em questão. Por isso, também existem pequenas vitórias. São elas que inspiram o meu trabalho diário”, refere a economista.