O stress e a alimentação irritam o intestino

É uma síndrome sem cura, mas há tratamento e medidas eficazes (Foto: Freepik)

A Síndrome do Intestino Irritável, doença funcional digestiva, afeta cerca de um milhão de portugueses. O desconforto e a dor abdominal frequentes são alguns dos sintomas. E as mulheres são mais afetadas.

Não é uma colite como, muitas vezes, é incorretamente apelidada. A Síndrome do Intestino Irritável (SII) é uma doença funcional digestiva, uma hipersensibilidade do intestino. É crónica, não tem cura, mas tem tratamento. A nutrição desempenha um papel importante no alívio dos sintomas. Nada de comida demasiado condimentada, alimentos ácidos, alimentos que produzem gás.

Trata-se da patologia mais frequente do tubo digestivo funcional e resulta da conjugação de fatores físicos e psicológicos. A longo prazo, os sintomas podem desenvolver distúrbios de ansiedade ou até mesmo de depressão. Surge, geralmente, por volta dos 45 anos de idade e é mais frequente no sexo feminino. “Em muitas ocasiões, as crises são desencadeadas por stress emocional, conflitos, ansiedade, depressão”, adianta Rui Tato Marinho, diretor do Serviço de Gastrenterologia e Hepatologia do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte, presidente da Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa.

Os sintomas mais característicos são a obstipação, diarreia, dor abdominal e, por vezes, alternância entre os períodos de diarreia e obstipação. Algumas vezes, coexistem também distúrbios no sono. E há sinais de alarme que levantam suspeitas para várias situações. Sangue nas fezes, vómitos com sangue, vómitos persistentes, diarreia com sangue, febre, perda de peso, cansaço extremo e que não passa, falta de apetite prolongado no tempo, anemia. Tudo isso significa procurar um médico imediatamente.

As mulheres são duas vezes mais afetadas do que os homens. Esta síndrome pode ocorrer antes dos 45 anos

As causas são múltiplas, segundo o especialista. “Pode surgir após uma gastrenterite, por causa de alteração das bactérias que compõe o conteúdo do intestino delgado e grosso, alteração nas vias de comunicação entre o cérebro e o intestino, aumento dos movimentos dos intestinos provocando espasmos e cólicas, muitas vezes como reatividade ao stress psicológico. Também poderá existir um peso genético em causa, reação a alguns alimentos, etc.”

As bactérias intestinais, que podem chegar aos 100 triliões, são responsáveis por muitas funções do organismo, nomeadamente a absorção de vitaminas e outros nutrientes e o funcionamento do sistema imunológico. No seu conjunto, estas bactérias podem pesar um a dois quilos e constituem mais de metade do peso das fezes.

O facto de ser uma doença facilmente atribuída a outras causas dificulta o diagnóstico

“Esta ‘doença’ tem um impacto muito elevado sob dois ângulos: não só na vida das pessoas que a têm traduzida no sofrimento, em ser doença crónica, mas também na necessidade de realizar muitos exames médicos, do absentismo laboral, entre outros. Para o especialista do aparelho digestivo, o gastrenterologista, tem um peso muito elevado já que pode constituir até cerca de um terço das consultas da especialidade”, revela Rui Tato Marinho.

É uma síndrome sem cura, mas há tratamento e medidas eficazes, nomeadamente a adoção de uma alimentação rica em fibras e evitar o uso de laxantes irritantes. É importante manter o equilíbrio emocional, recorrer a alguns medicamentos que não irritam a flora intestinal, fazer exercício físico para controlar o peso. E ainda evitar alguns alimentos que desencadeiam sintomas como é o caso de maçãs, abacates, cerejas, mangas, pêssegos, peras, melancias, frutas desidratadas, cebola, alho, repolho, espargos, alcachofra, cogumelos, leite, iogurte natural, entre outros.

Além disso, é fundamental não esquecer o rastreio do cancro do cólon e reto, o tumor mais frequente dos portugueses, por volta dos 50 anos. “O diagnóstico da SII depende com certeza não de um exame em particular, mas do conjunto de sintomas. Trata-se de um diagnóstico de exclusão. Ou seja, em muitos casos, só se pode assegurar que se trata de uma SII após se ter a certeza de que não existirá outra doença. Em muitos casos vai implicar fazer análises, excluir outras doenças como a intolerância à lactose, situações mais graves como cancros, fazer endoscopia ou colonoscopia, entre muitos outros”, refere o gastrenterologista.