O exercício físico controla a dor. É sair do sofá, o quanto antes

Mexer é essencial e é importante recordar que a possibilidade de prevenir e melhorar os estados de dor pode ser fácil e acessível a qualquer um

A dor crónica pode não ser um mero sintoma, pode ser uma doença com interferências na vida diária, com maior ou menor intensidade. Essa dor pode ter múltiplas causas e a mais frequente é quando o sistema músculo esquelético é afetado. Estima-se que cerca de 40% dos portugueses sofram de dor crónica e sabe-se que a prevenção é o ponto de partida para um controlo eficaz. O exercício físico faz toda a diferença.

“A lombalgia e a cervicalgia constituem as maiores causas de dor crónica do mundo e geram a maior perda de dias vividos com qualidade, mesmo quando comparamos com doenças do foro cardiovascular ou diabetes”, refere à NM Cláudia Armada, anestesiologista do IPO de Lisboa e membro dos corpos sociais da APED – Associação Portuguesa para o Estudo da Dor.

As terapêuticas farmacológicas são importantes, mas não suficientes para controlar essas condições de saúde. “Sendo o aparelho músculo esquelético o mais afetado torna-se óbvio que a otimização deste sistema promova resistência à dor e que melhore quem já dela padece. O movimento de forma genérica e o exercício físico de forma mais específica conduzem a maior resistência e força muscular, assim como fortalecimento da estrutura óssea permitindo estabilidade do esqueleto, nomeadamente do esqueleto axial (coluna)”, adianta a especialista.

EM PORTUGAL, APENAS 38% DAS CRIANÇAS ATÉ AOS 11 ANOS, 12% DOS JOVENS ATÉ AOS 15 ANOS E 35% DOS ADULTOS TÊM ATIVIDADE FÍSICA DIÁRIA SUFICIENTE.

O exercício físico aumenta a resistência aos pequenos traumatismos diários e atrasa o envelhecimento articular. São efeitos diretos. Há outros, indiretos. Segundo Cláudia Armada, o exercício tem outros benefícios que “previnem e melhoram os estados de dor crónica, como a melhoria da qualidade do sono, o aumento da sensação de bem-estar, aumento da capacidade de concentração, otimização do sistema imunitário, reduzindo o número de infeções, melhoria da condição cardiovascular com redução no número de enfartes e acidentes vasculares cerebrais, prevenção da diabetes e melhoria da função respiratória, entre outros.”

Caminhar é importante, manter a mobilidade é fundamental, e convém não esquecer que o sedentarismo é o maior fator de risco para desenvolver dor crónica. Os portugueses sabem que é benéfico fazer exercício físico, por várias razões, mas não têm a real noção da gravidade se não o praticarem. Habitualmente, associam a prática física apenas à prevenção de doenças cardiovasculares e diabetes, e pouco mais.

O EXERCÍCIO FÍSICO É USADO FREQUENTEMENTE NO CONTROLO DA DOR. O TEMPO E O TIPO DE EXERCÍCIO PODEM VARIAR DE ACORDO COM A CONDIÇÃO DE SAÚDE OU A TOLERÂNCIA DO DOENTE.

“O pior é que nem a doença cardíaca nem a diabetes se fazem sentir até ser tarde demais e, como tal, talvez não seja uma informação suficientemente motivadora, principalmente para os jovens. Talvez estejamos a ficar um pouco mais ecológicos, mas, definitivamente, não menos sedentários.” A anestesiologista recorda os dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) de 2018 para os níveis de atividade física em Portugal. Apenas 38% das crianças até aos 11 anos, 12% dos jovens até aos 15 anos e 35% dos adultos têm atividade física diária suficiente. “São dados alarmantes e, podem, inclusive, implicar uma diminuição da esperança média de vida dos escalões mais jovens o que, a verificar-se, seria a primeira vez na existência do ser humano.” “É preciso aceitar a nossa condição original, que é estar em movimento”, acrescenta.

Mexer é essencial e é importante recordar que a possibilidade de prevenir e melhorar os estados de dor pode ser fácil e acessível a qualquer um. Importa sensibilizar a população para a adoção de comportamentos saudáveis e incentivar o movimento como forma de prevenção e tratamento de estados de dor ligeira a moderada. “Todos temos a capacidade de introduzir mais movimento na nossa vida, seja a caminhar, correr, saltar, dançar, nadar, etc., ou a fazer algum tipo de exercício mais elaborado ou assistido. Esta mudança no estilo de vida pode trazer benefícios incalculáveis, não só individualmente como para toda a sociedade, já que reduz o fardo económico de uma nação”, sublinha Cláudia Armada.