O cabelo também é o espelho da nossa saúde

O cabelo não é um simples detalhe, é parte essencial da imagem, mas também da da autoestima, da apresentação (Foto: DR)

O que acontece no topo da cabeça é um indicador do que se passa dentro do corpo. Um sinal de doenças e comportamentos inadequados. O stress e a ansiedade são dois inimigos de peso.

A aparência não é apenas um fator externo, tem muito que se lhe diga, tem muito a contar para lá da camada mais superficial da epiderme. O cabelo, essa moldura do rosto, pode ser revelador do que se passa dentro do corpo. O seu aspeto não é resultado exclusivo dos tratamentos que recebe em casa, na cadeira do cabeleireiro, ou do ambiente que o rodeia. Há situações e condições que explicam o que se passa em cima da cabeça. “O nosso cabelo diz muito sobre o nosso estado de saúde”, garante Susana Vilaça, coordenadora da Unidade de Dermatologia do Hospital Lusíadas do Porto.

Há avisos visíveis e outros mais subterrâneos. A queda acentuada de cabelo é sinal de que algo não está bem. Pode acontecer depois de um parto, após uma intervenção cirúrgica, pode revelar défices de vitaminas e proteínas. Pode indicar que o corpo precisa de ferro, por exemplo. Ou pode sugerir que a tiroide não está a funcionar como devia ou aparecer associada a uma doença inflamatória ou mesmo cancerígena. O cabelo é como uma espécie de termómetro. Um espelho do corpo e da alma.

As hormonas, o metabolismo, a diabetes e o excesso de peso também têm responsabilidade na falta de cabelo, fios enfraquecidos, pontas espigadas. Susana Vilaça adianta que doenças crónicas e imunológicas e alguma medicação, como anticoagulantes, explicam menos cabelo. “A queda repentina, normalmente, reflete o estado de saúde.” A queda abrupta, acrescenta, tem várias causas que passam por défices vitamínicos, perdas de sangue, anemias, dietas, doenças agudas, fármacos, quimioterapia, radiação ionizada, bem como a presença de alguns produtos químicos tóxicos, nomeadamente o tálio, o arsénio e o boro. Por tudo isso, convém estar atento para perceber se os fios que caem no chão são ou não motivo de preocupação. E quem não se queixa exige atenções redobradas. Um bebé com cabelo áspero e fino e queda que não estanca implica ir ao médico e exames para saber o que causa essa alteração, se é ou não uma doença genética.

“A parte genética é uma componente muito importante”, sublinha a dermatologista. Aqui está, muitas vezes, a raiz da explicação de um cabelo mais fino, que cai mais, e até mesmo da calvície. A genética tem muita força em muitos lados e no cabelo não é exceção. Mas nem sempre é o que corre nas veias e navega pelo organismo que se manifesta em cima da cabeça. O stress e a ansiedade podem, no limite, fazer cair todo o cabelo. Ou parte dele, devagarinho, ou explicar as peladas na cabeça, as falhas de cabelo que, por vezes, se instalam sem pedir licença. “O nosso bem-estar psicológico, da alma, também se reflete no cabelo”, adianta Susana Vilaça.

Défice de vitaminas e proteínas

Ter um cabelo seco ou um cabelo oleoso não é um problema de saúde, associa-se, sobretudo, à parte genética, e os produtos que existem no mercado são feitos para hidratar e equilibrar os cabelos. Seja como for, nada de produtos químicos agressivos na cabeça.

Nuno Pereira é cabeleireiro e sabe que, por vezes, um cabelo de aspeto maltratado ou malcuidado não é sinal de má higiene. Há outros fatores que entram nesta equação nem sempre muito óbvia. A alimentação, o organismo, o clima, a própria qualidade da água, não são pormenores sem a mínima relevância. “O cabelo tem, sem dúvida, importância ao nível da saúde”, comenta.

Está tudo ligado e tudo tem consequências. O que o corpo ingere vai para o sangue que chega a todo o lado e distribui elementos importantes. “Se faltam componentes no sangue, o cabelo não cresce de forma tão saudável, fica mais frágil por falta de proteínas, vitaminas, magnésio”, refere. “Uma alimentação não adequada, problemas na tiroide, alguma medicação, antidepressivos, dietas sem acompanhamento médico, tudo isso se reflete no cabelo.” E se esses comportamentos se arrastam ao longo dos anos, a fatura será alta, o organismo dá de si e o cabelo também sofre.

O cabelo não é um simples detalhe, é parte essencial da imagem, mas também da da autoestima, da apresentação. “É como uma planta, se for regado cresce mais forte”, refere o cabeleireiro.

Nuno Pereira acrescenta um indicador importante: se há uns anos um fio de cabelo demorava sete anos entre o dia do nascimento e o dia da queda, agora a média anda pelos quatro anos. “A falta de cabelo não é do gel nem do trabalho técnico.” Não é uma questão externa, é interna. “Hoje em dia, a alimentação não é a mais correta, aquilo que consumimos está manipulado”.

Susana Vilaça destaca igualmente a parte alimentar para a saúde do cabelo. Cabelo mais fino, que cai mais, pode indicar falta de vitaminas. Uma alimentação saudável, regada de legumes e fruta, e zero gorduras, faz diferença. “O cabelo é um sinal do nosso bem-estar, sem dúvida, e é o primeiro sinal de doenças subjacentes”, reforça. Em todo o caso, qualquer alteração nesses fios que cobrem a cabeça deve ser comunicada a quem percebe do assunto.

Causas e efeitos

    • É normal perder cerca de 100 fios de cabelo por dia. No entanto, esse número pode aumentar durante a gravidez e na menopausa.
    • Queda abrupta do cabelo pode indiciar doenças crónicas, inflamações no organismo, anemia, mau funcionamento da tiroide.
    • Quando a caspa aparece, o cabelo perde o brilho e a força. O sistema nervoso dá de si e os fios não respiram à vontade devido às películas de células mortas no couro cabeludo.

  • A queda constante de cabelo pode significar falhas no sistema endócrino e no sistema imunológico e também diabetes.
  • Uma alimentação inadequada geralmente conduz à falta de proteínas, componente essencial à reconstrução do corpo. Quando falta proteína no organismo, o cabelo, a pele e as unhas são afetados.
  • Menos quantidade de vitaminas no organismo, cabelo sem brilho. A falta de selénico, fósforo e enxofre pode estar na base deste problema. E a falta de ferro pode impedir que o couro cabeludo obtenha mais oxigénio.
  • É importante limitar pratos de carne, fritos, gorduras, doces. Evitar o álcool também ajuda a ter um cabelo saudável.