O amor moderno às plantas

Sofia Manuel, Diogo Duarte e Bárbara Morais têm a natureza dentro de casa, centenas de vasos em todos os compartimentos. Falam de paz e partilham a paixão nas redes sociais.

A avó tinha a casa cheia de plantas, jardim repleto de flores, vasos nos degraus das escadas. Depois da escola, Sofia Manuel ia lá para casa e acompanhava aquela dedicação sem, porém, lhe dar muita importância. “Naquela altura não ligava grande coisa às plantas.” Tudo mudou, entretanto, e de que maneira. Hoje tem mais de 200 plantas na sua casa, no Fundão, partilha essa paixão nas redes sociais, tem um canal no YouTube, “A Tripeirinha”, onde revira do avesso este belo e misterioso mundo. Dicas para não matar plantas, como acabar com pragas de forma orgânica e natural, como resolver as pontas castanhas das folhas, os gadgets, o humidificador, o medidor de humidade e tantas outras matérias. Vídeos divertidos com informação útil, a desenvoltura de quem gosta do assunto. Começou a tirar fotografias e a partilhá-las nas redes sociais, com comentários a condizer, e surgiu a ideia dos vídeos. “O meu sonho era ser professora. No Instagram, as pessoas tinham milhentas perguntas sobre plantas, então porque não dar umas aulas?”. Sofia Manuel, natural do Porto, programadora de software, 30 anos, tem plantas em todos os compartimentos de casa, WC incluído (até a cortina da banheira é uma espécie de rede de trepadeiras).

O passatempo tornou-se coisa séria e os vídeos têm milhares de visualizações. Faz imensas experiências para perceber o modo de estar das plantas. “Meter o dedo no substrato é a melhor coisa para perceber se uma planta precisa de ser regada.” Só quando a terra está seca é que precisa de água. Se está húmida, nada de rega para não apodrecer as raízes. “É como se estivesse numa banheira, fica com os dedos encarquilhados.” Há outros fatores. “A regra de ouro é estarem perto de uma fonte de luz, todas precisam de luz, e há umas mais resistentes à escuridão do que outras.” E não só. “É preciso limpar as plantas, passar com um paninho, como limpar o pó, senão não conseguem alimentar-se.”

A paixão deu de si em Moçambique, onde viveu oito meses, depois do curso de Engenharia Civil, de um ano como bolseira de investigação da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto. “Aí não faltam plantas, seja onde for.” O amor cresceu durante esse estágio em que fazia estudos geotécnicos para barragens, regressou a Portugal, e teve a primeira casa. “Sentia que faltava alguma coisa, senti necessidade de colocar uma planta aqui, uma planta acolá, de uma passei para 200.” Nesse pequeno T1, 15 minutos antes de sair de casa, punha as plantas num tabuleiro em cima da cama. “Era o sítio que apanhava melhor luz.” Agora a casa é um pouco maior.

Sofia Manuel tem uma almofada para se deitar no meio das plantas e falar com elas. “É o mesmo que ir a um jardim, e é o meu ginásio, trato delas, falo com elas. Dão-me calma, paz, ajudam-me a relaxar.”

Diogo Duarte sente o mesmo. Foi criado no campo, entre plantas, hortas, animais. “A paixão é desde sempre, há dois anos comecei a levá-la mais a sério, a dar-lhe mais importância.” Hoje tem mais de 200 plantas no seu apartamento em Sintra. De tudo um pouco, mais plantas tropicais. Todos os dias faz a ronda para verificar o que é necessário, se é preciso mais água ou luz, o que quer que seja. Sempre atento às especificidades, à localização, ao substrato, às pragas e doenças. “Quanto mais plantas, mais cuidados.”

Com 30 anos e projetos na área da fotografia e vídeo, Diogo Duarte é consultor de plantas, está ligado a um horto, está disponível para ver casas e analisar condições para que tudo corra bem. Também partilha este seu amor nas redes sociais e também tem um canal no YouTube. No primeiro vídeo fez um tour pelo verde de sua casa. As plantas trazem-lhe boas energias, têm um efeito terapêutico, que ajudou no confinamento. “Trazemos a natureza para dentro de casa, colocamos as mãos na terra, desligamos do Mundo, as plantas dão-nos essa tranquilidade.” Gosta de tocar nas folhas, sentir as texturas, falar com elas. E faz questão de se manter atualizado. Lê e pesquisa bastante, nomes científicos, estudos de ADN, batismos que se alteram. “É importante perceber o que se está a passar, o que mudou e o que muda no mundo das plantas.”

A moda que vira paixão

Bárbara Morais resgatou a sua primeira planta do lixo. Aos bocadinhos, encheu a casa de espécimes, tem mais de 300 na pequena moradia com jardim interior e exterior e quintal, no Porto. “Já deixei de contar, eu multiplico plantas.” Partilha nas redes sociais (tinynest183) e não tardou a perceber que há uma comunidade que se identifica com esse estilo de vida.

Esse mundo não lhe era estranho. Bárbara estudou Arquitetura, focou-se nas áreas verdes, percebeu o impacto das plantas nas conexões dos espaços e nas relações. Não acabou o curso, mudou de trajeto, o conhecimento ficou. Tem 26 anos, uma filha pequena, trabalha numa cadeia de hipermercados. O conceito de selva urbana sempre a atraiu, gosta de ter plantas por perto, em todos os compartimentos de casa. Dão-lhe calma e essa ligação permanente à natureza. Em miúda já era assim, a família preferia mais o campo do que a praia.

“Prefiro ter plantas a móveis”, confessa. Sente-se bem assim, a cuidar delas, a mostrar o que vai fazendo nas redes sociais. “É sempre bonito ter outros seres vivos em casa. Cuidar deles, vê-los crescer, ver folhas novas.” Bárbara não tem dúvidas: “Isto começa como uma moda e vira uma paixão”.