Nuno Santos: impossível não é hipótese

Nuno Santos, diretor-geral da TVI (Ilustração: Mafalda Neves)

Nunca fica no tapete, avisam amigos e familiares. Reergue-se sempre. “Em adversidade, o Nuno levanta-se todos os dias de punhos cerrados. Não para magoar mas para lutar e se defender.” Cristina Santos é uma das raras pessoas que conhece de cor o diretor-geral da TVI. Mais velha oito anos, recorda o nascimento “tão desejado” do único irmão “como a primeira grande alegria” da sua vida. Cedo lhe confiou segredos porque cedo se demonstrou confiável. E nem a diferença de idade impediu a cumplicidade precoce, que ficaria para sempre. A cada momento ou decisão importante é Cristina que Nuno procura. É ela quem lhe acrescenta prudência. “Talvez não pareça mas o Nuno é muito emocional. Quase todas as decisões são tomadas com base numa grande emoção.” Não parece mesmo. Vítor Gonçalves, que foi seu diretor-adjunto na RTP, vivia a estação pública a ressaca das transferências de Judite de Sousa e de José Alberto de Carvalho para a TVI, descreve um “líder que nunca perde as estribeiras, muito controlado, muito racional”.

Um líder, concordam irmã e amigo: “O Nuno é um mobilizador de equipas e em cada projeto faz com que cada pessoa se sinta relevante”, diz Vítor Gonçalves. Mobilizador, ambicioso (“Nunca se contenta em fazer benzinho ou suficiente”) e inovador (“Com ele só aprendi coisas boas”).

Cara da rádio e da televisão, ex-diretor de informação e programação da SIC e do canal público, move-se num mundo de egos e de grande competitividade, ambiente difícil, mas, recorda a irmã, “chegou sempre aos seus sonhos”: sonhou com a rádio, paixão de uma adolescência tranquila e pacata, gosto improvável dada a ausência de tradição familiar, e conseguiu. Sonhou com a televisão e conseguiu.

Nuno Santos conhece bem os inimigos. Sabe bem porque teve de viver em exílio. De 2013 a 2106 em Joanesburgo e nos Emirados, e depois em Madrid, diretor de uma multinacional da área da publicidade, media e digital. “Foi devastador para ele, a ligação com a família é muito importante, nomeadamente com filho”, o Pedro, orgulho maior, agora com 12 anos. Hoje, porém, recorda esse tempo com algum agrado. Em Nuno Santos, a paciência é na verdade contranatura. Porém, nesses anos aprendeu. Aprendeu a deixar passar o tempo. Aprendeu que a gratidão é um bem escasso, “o que não sendo uma surpresa é sempre chocante”, diria há três anos à “Noticias Magazine”. “Quando precisam de ti é só palmadinhas nas costas, quando acham que não contas nem te conhecem. Pobres de espírito.”

De regresso a Queluz onde nasceu, pela porta grande de uma casa que desconhece, para enfrentar, segundo a irmã, “talvez o maior desafio”. Aos que trabalham com ele: vão direto ao assunto. Não se escudem em burocracias. Não comecem por dizer não. No resto, não é de levar desavenças a peito e detesta a unanimidade. “O Nuno zanga-se muito mas depois passa”, assinala Cristina, recordando a reaproximação a Emídio Rangel, já este muito doente, depois de um afastamento que se poderia ter imaginado definitivo.

Nas visitas a Robben Island e a Soweto, e nas biografias de Mandela, descobriu que um homem sozinho pode fazer a diferença, e consolidou o lema de vida – “It always seems impossible until it’s done” (Parece sempre impossível até ser feito).

Nuno Miguel Duarte dos Santos
Cargo:
diretor-geral da TVI
Nascimento: 19/04/1968 (52 anos)
Nacionalidade: Portuguesa (Queluz, Sintra)