Modelos de quatro patas posam para serem adotados

Be My Friend. É esse o nome do projeto que leva o fotógrafo João Azevedo a todos os pontos do país onde haja cães e gatos à procura de dono. Tudo por amor aos animais. Altruísmo em estado puro.

Luzes, pose, câmara, ação. Tudo pronto para o início de mais uma sessão fotográfica de João Azevedo, 45 anos. Do outro lado da câmara, os protagonistas são especiais e a causa é nobre. Posam para a objetiva, por vezes inquietos com tanta atenção inusitada, cães e gatos recolhidos nas ruas e que buscam quem os acolha e lhes dê vida nova e digna. É assim desde o ano passado o Be My Friend [Sê Meu Amigo], projeto que João desenvolve sozinho, de forma completamente gratuita, apenas movido pelo carinho imenso por animais que sofreram na pele o desatino do abandono e merecem a oportunidade de serem felizes nos braços de quem lhes prometa abrigo e amor.

“As fotos são publicadas nas páginas de Facebook e do Instagram do Be My Friend, que também tem um site. Além disso, são partilhadas pelas associações que me chamam e por particulares”, explica. Os resultados têm superado as expectativas. Contabilidade conferida, foram mais de 300 os animais adotados após as imagens terem sido dadas a conhecer e rodado numa onda de visualizações que facilmente chega aos milhares de perfis.

“Nunca pensei que fossem tantos os interessados, sinceramente. Tem sido fantástico. Há casos de pessoas que atravessam o país inteiro para recolher um animal que eu fotografei.” O país inteiro e até o estrangeiro. Sim, o Be My Friend galga fronteiras com facilidade, nobreza das redes sociais que fazem chegar a bicharada captada pela lente de João Azevedo a todos os cantos do Planeta. “Ainda recentemente vieram de Inglaterra de propósito buscar um cão fotografado para o Be My Friend. Já houve interessados do Luxemburgo e de outros países.” Quem o testemunha é Olga Ruth, presidente da Pa’Tudos, de Condeixa. “O grande segredo é que a expressão e o olhar dos animais são captados de uma forma exemplar, o que lhes valoriza a personalidade” completa, por sua vez, Ângela Assis, da Associação de Proteção dos Animais de Torres Vedras.

Nem sempre é fácil chegar ao resultado pretendido, admite João Azevedo. “Por amor à causa consegue-se tudo”, diz, qual mote para a missão. O complicado, na maior parte das sessões fotográficas, é manter a atenção dos animais no ponto. “Com a ajuda de todos acabo sempre por conseguir. Basta um pequeno espaço que sirva de estúdio e pronto”, sintetiza.

Para que cães e gatos acalentem a esperança de uma nova vida, João Azevedo percorre dezenas de estruturas de recolha de animais, a maior parte delas privadas e sem fins lucrativos. De Coimbra, onde reside, parte seja para onde for, de Bragança a Faro. Não pede um cêntimo sequer, as únicas ajudas de custo são as despesas de deslocação, financiadas pelas associações com que colabora. “Faço isto completamente pro bono”, orgulha-se. Patrocínios nunca surgiram, embora não os exclua se houver quem esteja disposto a avançar com uma pequena ajuda que seja.

O Be My Friend também chega a instituições públicas municipais. Aconteceu em Coimbra, Peniche, Castelo Branco, Setúbal e Sintra. E também em Matosinhos, através do CROAM, centro de recolha de animais dinamizado pela Autarquia. “Este tipo de ajuda é essencial. Basta dizer que após as fotos dos nossos animais terem sido divulgadas recebemos imediatamente feedback de bastantes interessados, o que dantes não acontecia”, sublinha Liliana Sousa, responsável pelo CROAM. “É o melhor cartão de visita que poderíamos ter, já registámos cerca de 30 adoções desde então”, aponta.

Até agora, apenas cães e gatos foram fotografados para o Be My Friend. Mas a porta não está fechada a outras espécies. “Basta que apareça a oportunidade”, diz João Azevedo. Nem de propósito, as últimas chamadas que lhe caíram no telemóvel apontaram a possibilidade de alargar o horizonte do portfólio. “Há a possibilidade de vir a fotografar cabras e porcos vietnamitas disponíveis para adoção, vamos ver”, revela. Por amor aos animais, sempre e apenas por isso. Que, no fundo, é tudo.