Maria do Céu Albuquerque: “As pessoas têm tanto receio que não querem vestir nada que diga Made in China”

Ilustração: Mafalda Neves

A nossa convidada desta semana é a ministra da Agricultura Maria do Céu Albuquerque, que deu recentemente nas vistas, depois de ter afirmado, na maior feira da Europa para empresas do setor horto-frutícola, que o coronavírus pode ter “consequências bastante positivas” para as exportações portuguesas. Olá, senhora ministra. Não fazia ideia que o coronavírus era feito na Autoeuropa.
A minha frase não foi bem entendida. O nosso sentimento é de preocupação e de solidariedade e de sinceras esperanças que a cura do corona passe por derivados do pastel de nata.

Ou que a vacina seja administrada com o uso de um galo de Barcelos.
Isso também dava jeito.

A senhora é licenciada em Bioquímica. Eu não percebo como é que uma pandemia destas pode ser positiva para as nossas exportações a não ser para a indústria funerária.
O que eu disse é que “pode ter consequências bastante positivas” para as empresas portuguesas que queiram entrar naquele mercado asiático.

Bastante positivas?! Como é que isso é possível se, entretanto, eles falecerem todos e deixar de haver mercado asiático?
Os chineses são muitos. Se morresse metade, ainda ficava gente que chegava para encher uns paquetes. Além do mais, as pessoas têm tanto receio que já não querem vestir nada que diga Made in China e aí entrávamos nós com o nosso Made in Portugal.

Eu acho um bocado desumano. Criticaram a antiga ministra da Agricultura por ter pedido para rezarem para que chovesse para ajudar a nossa agricultura e, agora, temos uma ministra capaz de ir rezar um terço para que o coronavírus ande por aí a matar gente para Portugal poder exportar mais.
Há males que vêm por bem.

A seguir vai desejar que venha uma epidemia de Ébola porque podemos entrar no mercado africano? Ou uma peste negra que mate tudo o que é fabricantes de calçado exceto os nossos?
Há sempre oportunidade de negócio nas tragédias, nem que seja a vender lenços de papel. Repare na fortuna que estão a fazer as empresas de máscaras. É pena, por exemplo, as máscaras dos fatos dos caretos de Podence não serem as ideais para evitar a exposição ao vírus.

Isso era bom para a nossa economia, mas se as pessoas não morressem da doença, podiam morrer de susto.

Frutas, legumes e vírus

A ministra da Agricultura Maria do Céu Albuquerque disse, em Berlim, numa visita às empresas portuguesas que participaram na Fruit Logistica, a mais importante feira de frutas e legumes da Europa, que o novo coronavírus “até pode ter consequências bastante positivas” para as exportações portuguesas do setor agroalimentar para os mercados asiáticos.

Alguns dias depois, e após muita polémica, a governante lamentou que essas declarações tenham sido mal interpretadas, garantindo que não se quis aproveitar de um “flagelo mundial”.