Joe Biden: o moderado resiliente

Joe Biden é o candidato democrata à Presidência dos Estados Unidos nas eleições de 2020 (Ilustração: Mafalda Neves)

Moderado, centrista, experiente. O Partido Democrata escolheu-o para enfrentar Donald Trump e o país, em sondagens sucessivas, reconhece-lhe, pelo menos, simpatia e serviço na vida pública. Mais de 50 anos de experiência governamental e uma ambição antiga levam Joe Biden a tentar pela terceira vez (em 1988 e 2008 falhou a indicação do partido) a Presidência dos EUA, agora, em 2020, num contexto interno e externo particularmente perigosos e incertos. Tal como o adversário que terá pela frente.

Foi dos senadores mais jovens de sempre, eleito (por Delaware) pela primeira vez em 1972. Ano feliz e trágico. A 18 de dezembro, poucos dias após a eleição, a mulher, com quem casara ainda estudante, e a filha bebé morrem num acidente de carro que deixaria em estado crítico mais dois filhos do casal. A tomada de posse numa capela contígua ao hospital, na presença das crianças sobreviventes, comoveu os americanos. Tinha 30 anos (a idade mínima necessária para ocupar o cargo), muita raiva e a fé abalada. “Eu senti que Deus tinha feito comigo algo terrível”, viria a escrever. Pensou em abandonar o Senado, mas resistiu. O cargo fora demasiado desejado e há muito que a ambição política determinava a sua vida. Ainda na década de 1960 prometera à futura mulher que seria senador aos 30 anos e presidente um dia.

Joseph Robinette Biden Jr. nasceu a 20 de novembro de 1942, em Scranton, Pensilvânia, primeiro de quatro irmãos. Tinha um ano quando a família, da classe média e de ascendência irlandesa, se mudou para Claymont. Viveu uma infância marcada pela tradição católica. Pela asma, e pela gaguez, combatida recitando poesia em frente a um espelho, mas nunca ultrapassada de vez.

Aluno medíocre – na faculdade seria acusado de plágio e declararia o curso de Direito “o maior aborrecimento do mundo” -, era dado ao desporto, a hábitos saudáveis (abstémio) e à liderança. Nesses anos, estava longe de se supor o homem resiliente que é. Depois de um novo casamento e da vida refeita, nova tragédia. Em 2015, o filho Beau, procurador-geral de Delaware, de 2007 a 2015, e enviado ao Iraque em 2008-2009, morreu com um cancro no cérebro. A partir daí, a saúde, “assunto pessoal”, tornar-se-ia uma prioridade política de Biden, defensor do programa Obamacare.

Avô de cinco netos – Naomi, Finnegan, Roberta Mabel (”Maisy”), Natalie e Robert Hunter – assumiu os combates contra a violência armada e a violência contra as mulheres (apesar de ter sido acusado de assédio por algumas colaboradoras). Crê no bipartidarismo e no papel da América como líder no cenário global. Apoiou os acordos climáticos de Paris, defende a educação universitária gratuita, o acesso legal ao aborto e, depois de se opor ao casamento entre pessoas do mesmo sexo, acabou por se declarar “confortável” com a lei que o permite.

“Se dermos oito anos a Donald Trump na Casa Branca, ele mudará para sempre e fundamentalmente o caráter desta nação, quem somos, e não posso ficar parado a ver isso acontecer”, disse, no lançamento da candidatura. Se for eleito, tornar-se-á o presidente mais velho da história americana. E a sua eleição uma surpresa.

Joseph Robinette Biden Jr.
Cargo: candidato democrata à Presidência dos Estados Unidos nas eleições de 2020
Nascimento: 20/11/1942 (77 anos)
Nacionalidade: Americana