João Mano: regenerar ossos, criar vida

João Mano, 52 anos, é professor catedrático no departamento de Química da Universidade de Aveiro (Foto: DR)

É uma investigação complexa e multidisciplinar com soluções terapêuticas inovadoras, da mais ínfima e nano dimensão à macro escala. A regeneração de tecidos ósseos conquistou 2,5 milhões de euros numa bolsa atribuída pelo Conselho Europeu de Investigação. João Mano, 52 anos, especialista em biomateriais, licenciado em Engenharia Química no Instituto Superior Técnico, doutorado em Química-Física na área de polímeros, professor catedrático no departamento de Química da Universidade de Aveiro, investigador do CICECO – Instituto de Materiais de Aveiro, está aos comandos do projeto. Com orgulho. “É uma questão de prestígio e um selo de qualidade”, refere. É o único português contemplado.

O objetivo é desenvolver tecidos tridimensionais à medida e escala dos defeitos ósseos reais e com alta precisão geométrica. Testar novos fármacos e terapias é também vontade do cientista que quer melhorar o bem-estar e a qualidade de vida dos pacientes. O percurso para os próximos cincos anos está traçado: criar tecidos vivos funcionais com células ósseas, de forma mais natural possível, com procedimentos arrojados, para preencher regiões diferenciadas de quem perdeu massa de osso por várias circunstâncias, nomeadamente fraturas extensas ou perda massiva de estrutura.

“Utilizaremos proteínas que são obtidas no parto e que são normalmente descartáveis, como a membrana amniótica e o cordão umbilical”, explica. “Vamos buscar materiais que vão para o lixo para isolarmos proteínas que podem ser modificadas e dar origem aos nossos biomateriais.”

Várias tecnologias entram em ação para organizar as células que são colocadas em placentas artificiais, em reservatórios líquidos que darão origem a um pequeno tecido ósseo que passa por um processo de maturação num biorreator. “O estímulo mecânico é importante.” E o importante é que seja tudo vivo para gerar tecido ósseo mineralizado e promover a sua vascularização, com base em materiais recolhidos no parto. Não é por acaso que o projeto foi batizado de “Reborn”. “É um novo nascimento, uma nova vida.”

O cientista está na vanguarda da investigação de ponta. Dirige o Compass, um dos grupos de investigação mais ativo da Europa na área dos biomateriais. “É uma área que junta várias áreas científicas, que pode ter impacto na qualidade de vida do paciente”, diz. Com vários elementos à mistura. “É uma área onde a criatividade é muito importante.” Olhar para a natureza, resgatar preciosidades naturais, reproduzi-las com ferramentas tecnológicas e recursos científicos sofisticados.

Quando era pequeno, sonhou ser astronauta e a ciência andou sempre por perto. Um dia, quando ainda era criança, um tio ofereceu-lhe um kit para instalar um micro laboratório em casa para brincar, explorar, inventar. Novos mundos abriram-se à sua frente.

É natural de Sintra e está há quatro anos na Universidade de Aveiro. Combinar a criatividade com a ciência é um aspeto que continua a dar-lhe prazer. Desde miúdo, de olhos arregalados. “A base da inspiração está em todo o lado”, confessa.