“Preparação excelente, conhecimento profundo da economia nacional, autonomia de pensamento”, destaca José António Vieira da Silva. O antigo ministro conhece bem João Leão. Em 2010, tutelava a pasta da Economia, nomeou-o diretor do Gabinete de Estudos do Ministério, a conselho do então secretário de Estado, Fernando Medina. Porém, foi no âmbito do grupo liderado por Mário Centeno que traçaria o cenário macroeconómico, base do programa eleitoral do PS às legislativas de 2015, que formou opinião. “Sobretudo aí”, diz Vieira da Silva, “apercebi-me da sua competência e da capacidade de questionar frontalmente ideias e propostas”. A tal “autonomia de pensamento” que lhe atribui.
Descendente de uma família da Esquerda – “ligeiramente à esquerda do PS”, precisa Ricardo Paes Mamede, que o conhece dos tempos do ISEG -, é considerado por Vieira da Silva “um social-democrata”. Com sensibilidade para as questões sociais, mas fixado sobretudo nas económicas, posiciona-se a meio termo: “Não é um defensor do liberalismo, também não é um estatista”, acrescenta o antigo colega de curso. Paes Mamede recorda o jovem da geração “Não pagamos”, que em 1994 combatia as propinas cavaquistas. “Quando chegou ao ISEG, vindo da Faculdade de Ciências e imbuído do movimento estudantil, era muito voluntarioso e idealista.” Faz a comparação com o economista de hoje, agora ministro: “O João não é a pessoa que era. Perdeu a ingenuidade que tinha”.
Que esperar daquele a quem Mário Centeno chamou “o artífice das cativações”? Paes Mamede lembra “o papel assumido no cumprimento das regras orçamentais”. Vieira da Silva realça “a visão global das questões financeiras e económicas”. A imagem marcada “pelo sentido muito intenso de responsabilidade, que assume de forma total”. A perceção profunda dos riscos acentua a tendência para concentrar em si a ação. Delegar não é para ele.
Ao ministro das Finanças cabe desde logo o peso político, enorme, próprio do ministério que tutela. Terá João Leão unhas para agarrar tal poder? “Neste caso recorro à lógica dos melões – só depois de aberto”, analisa Vieira da Silva. Porém, está otimista: “Tem tudo para dar certo – preparação, experiência e uma boa equipa”.
É um homem tímido e reservado, muito cordato, sob os holofotes. “A timidez ou o acanhamento não impedem a assunção do protagonismo. O João já provou que tem resposta rápida”, frisa Vieira da Silva. Desde logo porque poucos conhecerão melhor o estado das contas públicas do que ele, até agora secretário de Estado de Mário Centeno.
O novo ministro das Finanças é o mais novo de cinco irmãos. A família tem origens em Goa e tradição na Economia – três irmãos são professores da matéria. Aluno brilhante, doutorou-se no MIT – Massachusetts Institute of Technology, nos Estados Unidos. Sabe-se que começou cedo a lutar pela autonomia financeira vendendo jornais no Bairro Alto, que gosta do Algarve e de polvo à lagareiro. Que sabe lidar com a burocracia. E que não será fácil aos pares europeus pronunciarem-lhe o nome.
João Rodrigo Reis Carvalho Leão
Cargo: Ministro das Finanças
Nascimento: 15/02/1974 (46 anos)
Nacionalidade: Portuguesa (Lisboa)