Isabel Camarinha: “Se quase ninguém me conhece sem máscara, imagine com máscara”

Isabel Camarinha lidera a CGTP-IN (Ilustração: Mafalda Neves)

Hoje a nossa entrevistada é a líder da CGTP, Isabel Camarinha. Com a distância social devida vamos começar a nossa entrevista. Estamos perante uma mulher que conseguiu algo que parecia impossível – celebrar o Dia do Trabalhador sem barraquinhas a vender Sagres. Deve ter sido o primeiro 1.º de Maio sem álcool. Imagino o sofrimento.
Nós fizemos uma celebração do 1.º de Maio cumprindo todos os requisitos da DGS.

Eu vi, aquilo parecia uma cena de futebol americano. Com aquelas marcações todas no chão. Deve ter dado uma trabalheira a quem fez aquilo, espero que lhes tenham pago bem. Mas, por exemplo, eu reparei que a senhora não usou máscara.
Não fazia sentido. Se quase ninguém me conhece sem máscara, imagine com máscara.

Mas é um bocado esquisito festejar o 1.º de Maio só com líderes sindicais e sem ninguém que realmente trabalhe.
Um líder sindical trabalha muito.

Peço desculpa, mas acho estranho fazer um 1.º de Maio só com líderes sindicais. É como fazer um 13 de maio só com bispos. Acho que se não é possível fazer um 1.º de Maio com todos os trabalhadores mais vale não fazer. Soa um bocado a 1.º de Maio exclusivo, só para quem tem cartão ou garrafa. Só faltou proibir a entrada a quem viesse de fato de macaco. Atenção que eu não tenho nada contra o 1.º de Maio, pelo contrário. E gostei de ver a direita muita chateada com as celebrações. O comunavírus faz-lhe mais falta de ar do que o corona.
Esta é uma altura muito importante para lutarmos pelos direitos dos trabalhadores.

Concordo, mas acho que ali arriscaram um bocado. Em vez do “de pé ó vítimas da fome” arriscaram um “deitados ó vítimas do corona”. Acho uma loucura o Jerónimo, com a idade que tem, ter ido para ali sem máscara, é um risco. Ainda por cima, com a profissão que ele tem, deve estar mais do que habituado a usar daquelas máscaras de soldar. Não lhe custava nada levar uma máscara.
Acho que tudo isso é um falso tema. As comparações com Fátima são ridículas.

Aí eu concordo. Apesar de ambas terem uma mulher à frente das comemorações. A diferença é que a senhora apareceu em cima de um palanque e a Nossa Senhora em cima de uma azinheira.
Nunca nos irão impedir de celebrar o 1.º de Maio

Eu percebo, mas acabou por ser chocho. Já não via tão pouca gente na Alameda desde o último comício do CDS.

Distância sindical

As concentrações promovidas pela CGTP-IN em várias localidades para comemorar o Dia do Trabalhador foram alvo de diversas críticas. A contestação reside no facto de, a 1 de maio, o país ainda se encontrar em estado de emergência e de terem participado sindicalistas de fora dos concelhos onde as cerimónias se realizaram, numa altura em que a população estava proibida de circular fora do concelho de residência.
A estrutura sindical, liderada por Isabel Camarinha, repudiou as críticas e garantiu que “nas iniciativas realizadas foram garantidas todas as normas de proteção da saúde e de distanciamento sanitário”.