Hepatite C, uma inflamação do fígado, uma doença assintomática

Em muitos casos, a hepatite pode não ter manifestações sintomáticas

A maioria das pessoas infetadas com o vírus tem sintomas ligeiros. A transmissão acontece sobretudo por via sanguínea e as taxas de cura andam pelos 97%.

VHC é o nome do vírus que está na origem da Hepatite C, o responsável pela inflamação do fígado. É uma doença assintomática e silenciosa que se diagnostica através de análises ao sangue. Todos os anos, no Mundo, morrem cerca de 400 mil pessoas devido a essa patologia. Em Portugal, estima-se que o número de infetados ronde os 40 mil. Apesar de tudo, as taxas de cura rondam os 97%.

Regra geral, o VHC transmite-se por via sanguínea através da partilha de agulhas, seringas e outro material usado para consumo de drogas endovenosas, transfusões de sangue anteriores a 1990 (quando o sangue ainda não era testado para este vírus), e relações sexuais com pessoa infetada. Os consumidores de drogas são o grupo de maior prevalência com percentagens de 60 a 70%.

Rui Tato Marinho, presidente da Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia, refere que todos os vírus das hepatites víricas são potencialmente fatais. “Em todo o Mundo morrem, pelas duas hepatites B e C, cerca de 1,4 milhões pessoas por ano.” “O impacto físico, mental, social e económico destas infeções é muito elevado”, afirma.

A infeção crónica pode conduzir à cirrose, À insuficiência hepática e ao cancro

A maioria dos infetados apresenta sintomas ligeiros, o que faz com que muitas pessoas desconheçam que têm a doença. Entre 20 e 30% dos doentes recuperam espontaneamente após uma infeção aguda. Os restantes 70 a 80% evoluem para hepatite crónica. Com o passar do tempo, geralmente anos, a infeção crónica por VHC pode conduzir à cirrose, à insuficiência hepática e ao cancro.

Os benefícios de tratar a Hepatite C são múltiplos ao nível físico, mental e social. “Salva vidas, reduzindo o risco de evolução para cirrose e cancro”, garante Rui Tato Marinho. “Além da eliminação definitiva do vírus, parando o risco de evolução para cirrose e reduzindo o seu risco oncogénico, é interessante chamar a atenção para os benefícios sociais, incluindo a potencial redução da criminalidade e a pacificação social”, comenta o especialista. Na sua opinião, “os benefícios de ajudar estes grupos de portugueses, alguns sem abrigo, outros migrantes, são diversos, revertendo para a sociedade de forma global”.

Neste momento, não há uma vacina para o tratamento do VHC. No entanto, o atual tratamento, com antivirais de ação direta, tem sido disponibilizado a todas as pessoas infetadas, elegíveis nos termos da norma de orientação clínica, e apresenta taxas de cura de cerca de 97%.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) quer erradicar a doença até 2030

Apesar dos bons resultados, o que se conseguiu no domínio desta patologia demorou mais de duas décadas. “No entanto, a percentagem de eliminação vírica de aproximadamente 97% com os tratamentos atuais é única e não tem paralelo nas infeções víricas. Este é um resultado muito positivo, principalmente tratando-se de uma infeção crónica, com um vírus oncogénico, dado o risco aumentado de evolução para cancro do fígado, se existir cirrose. Mais uma vez, Portugal esteve muito bem neste domínio, proporcionando o tratamento universal para todos os infetados pelo vírus da Hepatite C, a partir de 2015”, lembra o responsável.

“A simplificação que a evolução científica nos proporcionou foi fantástica: uma toma diária, oito a 12 semanas, sem efeitos secundários, 97% de eficácia em primeira linha, 100% com outro fármaco para quem falha à primeira”, exemplifica.

Este ano, tendo em consideração a importância dos grupos de risco e o trabalho desenvolvido para eliminar a doença como problema de saúde pública, a Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia reforça que todos contam na luta contra as hepatites. “Todos contam ao nível das pessoas com hepatites, uma vez que são todos importantes, principalmente aqueles que, por não procurarem por sua iniciativa os serviços de saúde e pelas condições em que vivem, são de difícil acesso. Por sua vez, todos contam no combate a estas patologias. Os doentes precisam dos esforços de todos, desde as instituições até às entidades políticas, é fundamental que exista um trabalho conjunto, para garantir o tratamento necessário a quem mais precisa”, sustenta o Rui Tato Marinho.

“Agora, mais do que nunca, temos todas as armas para a eliminação da Hepatite C. Temos medicação, temos gente no terreno, temos agora uma sociedade que foi capaz de digitalizar processos, de gerir uma pandemia e um estado de emergência com resultados globalmente positivos”, sublinha o presidente da Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia.