Gustavo Santos: “A Covid veio para nos salvar da Covida que tínhamos”

Gustavo Santos, o apresentador de “Querido mudei a casa” (Ilustração: Mafalda Neves)

Esta semana, o nosso convidado é o “escritor”, coach, orador motivacional, Gustavo Santos. Olá, Gustavo, é um prazer tê-lo aqui.
O prazer não existe. Existe é o prazer da existência.

Ui, não vamos começar já com isso, assim vou ter um esgotamento antes do fim da entrevista.
O fim é sempre o princípio de alguma coisa.

Vamos lá tentar falar sem parecer que estou a entrevistar um daqueles bolinhos chineses da sorte.
A sorte é uma rua estreita onde podem desaguar todas as avenidas.

Você não tem um botão para desligar essas frases?
Nós somos o botão da felicidade, só temos que o saber cozer na alma.

Assim não consigo.
A vida é um frasco de compota de mexilhão em que a tampa roda para o lado errado.

Eu queria ter uma conversa saudável consigo. Mas, em vez disso, vou pôr a língua naquela tomada.
A língua é uma osga da inquietação.

Pare lá de fazer frases que parecem feitas tirando palavras de uma tômbola.
O destino é uma tômbola que é rodada pelo grande hamster que é a força do teu querer, que não sabes o que queres.

Eu queria fazer-lhe uma pergunta, sobre aquela sua frase “a Covid-19 é um mensageiro cheio de amor a dizer ‘isto como está não pode continuar’”. Bem sei que foi no programa da Fátima Lopes, o sítio ideal para se dizer parvoíces sem sentido, mas não acha que foi demasiado estúpido?

A Covid veio para nos salvar da Covida que tínhamos.

Isso não quer dizer absolutamente nada. Mas se acha que a Covid é um mensageiro do amor porque é que não vai beijar lamelas com o vírus?
O amor é uma onda salgada que invade uma praia deserta só deixando seco o vendedor de bolas de Berlim.

E acha mesmo que a economia mata? Por exemplo, quando alguém compra um livro seu, é a economia a funcionar. Este exemplo não é bom porque um livro seu não mata, mas mói. Por acaso já comprei um dos seus livros porque fiquei sem acendalhas.
As acendalhas são as palminhas do fogo e as sandálias do inverno.

Vou embora. Fica a falar sozinho. Quando acabar, desligue a luz e saia pela janela. São só 15 andares.
Nós somos pirilampos de camurça cuja luz é um holofote que irradia purpurinas com sabor a chamuça.

Irra!

Querido vírus

Gustavo Santos esteve no programa “A tarde é sua”, da TVI, onde afirmou que a Covid-19 “é um mensageiro de amor a dizer ‘isto como está não pode continuar’”. “A economia não pode estar acima da educação, da família, da natureza, da saúde”, referiu o apresentador de “Querido mudei a casa”, na mesma estação televisiva. “A economia vai levar um abalo brutal e ainda bem. A economia mata as pessoas, às vezes não lhes tira o ar, mas mata-as porque as manipula, escraviza, amedronta, ameaça”, acrescentou o também ator, escritor, modelo e orador motivacional na conversa com Fátima Lopes, anunciando que havia sido pai pela segunda vez durante o período de pandemia.