Assediado por um grupo crescente de pares ao longo de mais de um ano, cedeu, deixando-se eleger presidente do Conselho Nacional da Ordem dos Arquitectos (OA). Aos 79 anos e sob um lema definidor. “Isto só lá vai com todos” é a tradução da sua “capacidade de congregar pessoas, de produzir consensos, mas também de apreciar a controvérsia, ouvindo a todos antes de tomar posição”, diz Jorge Figueira, vogal da Direção vencedora numa eleição com quatro listas concorrentes. Conheceram-se na Universidade de Coimbra onde lecionaram durante décadas. Gaba no amigo “a capacidade discursiva, a energia sem limite”. Descreve “um homem doce, muito atento, afetuoso e inteligente, características que nem sempre andam juntas”.
A OA não é, lembra ainda, “um organismo qualquer”. Helena Roseta concorda. Para a ex-presidente, porém, a OA “tem perdido intervenção e voz no espaço público”. Acreditando que Byrne devolverá à classe esse espaço, rende elogios ao novo líder. “O Gonçalo tem uma bagagem cultural fora de série e obras notáveis. Pensa, conhece a história. Fala pouco, mas faz-se ouvir.” Um profissional “sério e respeitado”, que em tempos trabalhou no gabinete de uma das referências da arquiteta e da arquitetura portuguesa: Nuno Teotónio Pereira. Da obra, “muito sólida”, releva a recuperação do Museu Nacional Machado de Castro, em Coimbra. “É de facto notável.”
Há quem teça críticas com igual desassombro. “Byrne é um desenhador de construção industrial que tenta passar a imagem de contenção e elegância, mas não se importa de fazer o frete à especulação e produzir edifícios de enorme agressividade”, aponta o arquiteto Alberto Castro Nunes, dando como exemplo, um dos vários que diz existirem, o Complexo Imobiliário Estoril Sol, em Cascais.
“Aceito bem a critica”, garante Gonçalo Byrne. Raramente se irrita. Não se lembra da última vez que lhe aconteceu. Coisas que a idade – “Algo com que vivo tranquilamente” – lhe tem trazido. Por exemplo: “A maturação, a capacidade de resistir a crispações, de ceder ao tempo curto”.
Pai de cinco filhos, quatro deles engenheiros, e de 12 netos, encontra no gosto pelos passeios a pé um elixir. “A transpiração é o melhor remédio para a mente.” É também a caminhar que se conhecem cidades. Trabalhou em vários países da Europa, tem a biografia de quem andou pelo Mundo, agora a passar por transformações inesperadas. “Senti que a arquitetura se estava a colocar de fora desse debate e também por isso avancei”, sustenta. Recorda, porém, a resistência inicial ao assédio e a primeira das reações ao desafio lançado pelos amigos: “Nem pensar”.
Escolheu a arquitetura na adolescência. Percebeu cedo que lhe era vital. “Se não fosse arquiteto seria arquiteto”, frisa. Prémio Valmor e Municipal de Arquitetura 2000 e Prémio Municipal de Arquitetura Diogo de Castilho 2008, é autor de uma obra várias vezes premiada em Portugal e no estrangeiro. Particularmente ativo nos planos patrimonial e cultural, do vasto currículo constam dezenas de intervenções. A OA não lhe irá roubar um dos prazeres maiores: “Ser arquiteto de projeto”. Para Jorge Figueira, Gonçalo Byrne “chega à Ordem no timing certo”. Ao amigo, atribui apenas um grande defeito: “É demasiado benevolente com o Mundo”.
Gonçalo Nuno Pinheiro de Sousa Byrne
Cargo: presidente da Ordem dos Arquitectos
Nascimento: 17/01/1941 (79 anos)
Nacionalidade: Portuguesa (Alcobaça)