Félix da Costa: o resiliente

Félix da Costa é piloto de automóveis (Ilustração: Mafalda Neves)

No paddock é conhecido por Dac. Da Costa. E no paddock não há quem não goste de António, o piloto português que se sagrou campeão mundial de Fórmula E. Quem o garante é o piloto Tiago Monteiro, gestor da carreira do amigo. “Querido por todos pela forma como aborda a vida, por ser simples, feliz, muito bem-disposto.” A boa-disposição não inibe a natureza competitiva, determinante na pista – “Quer ser sempre o primeiro, bate-se sempre por isso.” – e fora dela: “Nem que seja numa brincadeira entre amigos, o António quer sempre ganhar e luta até ao fim”. Pouco depois de cortar a meta da corrida que lhe deu o título, avisava Tiago: “Para o ano quero mais e melhor”.

Bom ganhador, na adversidade, luta. De tal maneira que nos momentos muito difíceis poucas vezes pairou a hipótese de seguir outro caminho. Duarte Félix da Costa, piloto e responsável pela imagem do irmão, é testemunha. “Nem aquando da maior mágoa da vida dele, que foi ter sido afastado da Fórmula 1”, depois das prestações do português terem valido menos do que a pressão da Rússia, apostada em ter um piloto no Grande Circo. Estava-se em 2012. O piloto de aviões Gonçalo Gaivão, amigo antigo, presenciou a reação de Dac. “Estávamos em Barcelona, no hotel, quando ele recebeu o telefonema. Deitou-se na cama, emocionou-se, chorou, estava muito irritado. Detesta jogadas de bastidores porque o António é um puro. Mas levantou-se depressa. Porque é sobretudo muito resiliente.”

Desde miúdo. Aos nove anos, iniciou-se nos karts. Franzino, chamavam-lhe Formiga. Depressa demonstrou que não sabia desistir. Em 2002, conquistou os primeiros títulos, no Campeonato Nacional e no Open Portugal. Em 2007, assinou com o maior construtor mundial de karts, a Tony Kart, por onde já passaram nomes como Michael Schumacher e Sebastian Vettel.

Vice-campeão no Campeonato Norte Europeu no ano de estreia em monolugares (2007), tornou-se o piloto português mais novo de sempre a competir na Fórmula Renault 2.0. Em 2010, apostou no competitivo Campeonato Europeu de Fórmula 3, fábrica de campeões. Esteve à altura do desafio, e conquistou o título de melhor rookie, com três vitórias absolutas. Chamou a atenção da Fórmula 1, oportunidade que acabaria por fugir. E que agora deixou de ser realista. “É verdade, mas há outros objetivos a conquistar”, diz Tiago Monteiro. O que distingue o amigo? “A inteligência de corrida, a garra, a capacidade de trabalho.” O talento “não chega”, adiciona Duarte. “Nestes meses de confinamento, acordava às cinco da manhã para andar de bicicleta. Não se limitou ao treino normal porque o António quer sempre fazer mais do que os outros. Por isso, pedalava diariamente durante três horas.” Seguia-se o trabalho no simulador e, à tarde, ginásio. “É um piloto muito completo. Nos próximos anos vai querer estar a bater recordes”, sublinha Tiago Monteiro.

António Félix da Costa admira Ayrton Senna, que morreu tinha ele três anos, recompõe-se na companhia do Glock (nome roubado a um colega de pista) e do Taco, o dogue alemão e o buldogue francês que tão bem o conhecem, em jantares com amigos na casa do Alentejo e a surfar no mar de Cascais, a terra onde nasceu, cresceu e vive, em residência partilhada com a ilha de Malta. Mantém privada a vida pessoal e familiar, mas sabe-se que tem paciência infinita com os sobrinhos. E é, asseguram os amigos, um condutor “cauteloso” no dia a dia.

António Maria de Melo Breyner Félix da Costa
Cargo:
piloto de automóveis
Nascimento: 31/08/1991 (28 anos)
Nacionalidade: Portuguesa (Cascais)