
Doença incapacitante pode surgir numa idade crítica do crescimento, a partir dos dez anos. Habitualmente, não causa dor física. O Dia Internacional de Sensibilização para a Escoliose é assinalado a 27 de junho e a campanha "Josephine explica a escoliose" esmiúça o assunto.
A escoliose é a principal deformidade da coluna em crianças e adolescentes e tem um forte impacto na autoestima dos mais novos. É uma doença comum e que se manifesta a partir dos dez anos, no início da adolescência, provocando uma deformidade em forma de S. O diagnóstico e o tratamento precoce são essenciais para evitar a dor na vida dos mais novos. Todos os anos, o último sábado do mês de junho é dedicado ao Dia Internacional de Sensibilização para a Escoliose.
João Lameiras Campagnolo, ortopedista no Hospital Dona Estefânia, em Lisboa, e coordenador da campanha “Josephine explica a Escoliose”, refere que se trata de uma “doença silenciosa que afeta maioritariamente as crianças e que continua a necessitar de respostas urgentes.” É a principal deformidade da coluna em crianças e adolescentes.
“Uma vez que se manifesta em grande parte nas crianças, é fundamental que os pais e educadores estejam atentos aos primeiros sinais que se manifestam através de diferenças de altura entre os ombros, apresentação da cintura descaída de um dos lados, ou a proeminência da caixa torácica quando a criança dobra o tronco para a frente.” Estes são os primeiros sinais de alerta e, habitualmente, a escoliose não provoca dor, o que, muitas vezes, acaba por dificultar ou atrasar o diagnóstico.
A escoliose pode não causar dor, o que dificulta ou atrasa o diagnóstico
Ainda há muito por descobrir sobre as causas da escoliose idiopática, a mais comum em crianças e jovens, mas sabe-se que não são as más posturas que provocam a doença. “Contudo, seja a curvatura da coluna mais ou menos acentuada existem cuidados que devemos ter com a postura, até como forma de prevenir o surgimento de dores nas costas”, avisa o ortopedista. Manter a posição da coluna o mais direita possível, e sempre que se está sentado, apoiar as costas na cadeira, e manter os calcanhares assentes no chão, estão entre os cuidados a ter.
Em casos menos graves, recomenda-se o uso de um colete de correção postural, ou uma cirurgia em situações mais avançadas, atualmente um procedimento com elevada segurança e sucesso terapêutico. “A escoliose pode afetar entre 2 e 3% das crianças e jovens, mas o número de casos que necessitam de tratamento está apenas em 1%.” Números bastante animadores.
“No entanto, importa reforçar que a escoliose não deve ser uma doença menosprezada pelo impacto que pode vir a ter na vida de uma criança, essencialmente no que diz respeito aos problemas de autoestima, uma vez que provoca uma deformidade visível na coluna, por vezes associada a uma verdadeira bossa do tórax (‘corcunda’).” “Por outro lado, porque as patologias na coluna são altamente incapacitantes e podem levar a uma diminuição da qualidade de vida”, acrescenta o especialista.
Em algumas situações, a doença chega a formar uma verdadeira bossa no tórax
Antes da situação de pandemia, as listas de espera para o diagnóstico e tratamento da escoliose ultrapassavam um ano e meio. João Lameiras Campagnolo adianta que atualmente, devido a todas as condicionantes impostas ao Sistema Nacional de Saúde pelo novo coronavírus, “é claro que a tendência é para que a situação se continue a agravar cada vez mais e por mais tempo.”
O projeto “Josephine explica a Escoliose” (https://www.facebook.com/girafajosephine/) aborda, de maneira simples, as principais problemáticas da doença de forma a chegar aos pais e crianças e, dessa forma, contribuir para que, cada vez mais, haja um diagnóstico precoce. “Contudo, é necessário também contornar as situações complexas de burocracia que atualmente ainda dificultam as aprovações, particularmente de tratamentos não cirúrgicos, como o caso dos coletes, que não são submetidas a tempo. Para isso temos de trabalhar na atualização de novas guidelines, orientações dirigidas a cada doente, bem como numa política de saúde que garanta o acompanhamento de todos os casos”, sublinha o médico.