Duarte da Costa: o epicurista

Duarte da Costa é presidente da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (Ilustração: Mafalda Neves)

Muito organizado, até na forma como dispõe a comida no prato. Tem quatro cães de água e uma jandaia. Todas as sextas-feiras abre o frigorífico e decide o que vai cozinhar para o fim de semana. “Adoro esses momentos.”

Nasceu no Dia Mundial da Proteção Civil, ele que não crê em coincidências – “só em consequências”, graceja. Mas não deixa de registar o facto. Recém-nomeado presidente do instituto que é suposto proteger-nos em emergências, Duarte da Costa compromete-se a não permitir que se repita a tragédia maior que foi Pedrógão. Desde logo, perante si próprio. “A minha consciência adormece sempre depois de mim.”

Filho e neto de oficiais do Exército, seguiu, por vocação, o caminho. Na Academia Militar esteve entre os melhores. Excelente a Matemática e a Filosofia, menos bom apenas a Geografia, fazia valer a memória prodigiosa. Também a capacidade física rara, que lhe permitia brilhar no pentatlo moderno – corria ainda antes da alvorada, praticava equitação e tiro, durante a tarde, natação e esgrima já ao sol-posto.

Foi comando, paraquedista, completou a formação nos rangers americanos. “Vai do paraquedismo ao mergulho”, elogia o general Nuno Lemos Pires. O subdiretor-geral de Política de Defesa Nacional conheceu o amigo na academia: “Nós andávamos. Ele corria”. Anos mais tarde, rendê-lo-ia no Afeganistão. Privariam num cenário difícil, integrados numa unidade afegã. “Era e é um líder, sempre muito humano, muito reconhecido pelos soldados.”

No Afeganistão, Duarte da Costa descobriu “a felicidade que é poder ter dias normais”. A importância de correr Mundo. Começou cedo. Da infância recorda África – duas comissões paternas, primeiro em Moçambique, depois em Angola. “As tempestades grandiosas, a fruta muito doce, as brincadeiras na rua”, filho único “muito reguila, diria até endiabrado”.

Fez formação na Alemanha e nos Estados Unidos. Viveu em Itália durante três anos e três meses, que não esquece. Aí, “na mais bela cidade do Mundo”, Florença, conheceu a mulher. É médica. Na noite em que falámos, estava de banco no covidário do Hospital da Luz. “Uma família de protetores”, diz.

Confessa-se “meticuloso no trabalho, sempre com um sorriso alegre”. “Um otimista militante” e pessoa feliz. Porque faz o que gosta. “Nunca o vi desanimado”, garante Nuno Lemos Pires. “Não há nele nada de irresponsabilidade e por isso diria que é otimista apenas no sentido em que procura soluções”, precisa Helena Ferro Gouveia. A especialista em comunicação releva do amigo “o lado muito racional e analítico, obsessivo com o detalhe e com o planeamento”. Um homem com sentido de humor “refinado”, um temperamento “afável, mas cauteloso”. Partilham o gosto pelo paraquedismo e pelas motas. “Adoro a minha Suzuki RF 600R vermelha. É um Ferrari de duas rodas”, realça o general. E pelo som industrial da banda alemã Rammstein.

A música é uma das paixões de Duarte da Costa. Antiga. Com 20 anos, guitarrista e compositor, formou os Alanexa. A banda situava-se “entre o rock ácido e o som de Carlos Santana”. Na música, “é enciclopédico”, dizem os amigos. Na amizade, “sempre disponível”.

Tem três filhos. Diogo, comissário de bordo, e duas futuras tenistas. Beatriz, 17 anos, já reconhecida na modalidade, prepara-se para rumar aos Estados Unidos. A mais nova – “endiabrada tal como eu era, sei bem que estou a pagá-las” – deverá seguir a irmã. Em casa, não falta diversidade cultural. Raízes de Itália e do Brasil. Da Galiza e de Macau, de onde a mãe é natural.

Muito organizado, é famosa a forma ordenada como dispõe a comida no prato. O espaço não foge à regra. “Bem tento que a casa esteja um brinquinho, mas não consigo.”

Vive com quatro cães de água e uma jandaia. Todas as sextas-feiras, abre o frigorífico e decide o que vai cozinhar para o fim de semana. “Adoro esses momentos”. Gosta de comer e de vinho, “tinto, claro”. “Ser epicurista é uma missão de vida.”

José Manuel Duarte da Costa
Cargo:
presidente da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil
Nascimento: 01/03/1961 (59 anos)
Nacionalidade: Portuguesa (Amadora)