No berço do fado, Lisboa, as casas passam dias de sobressalto devido à pandemia. No Bairro Alto, A Severa leva o nome da primeira fadista portuguesa assim conhecida. Nas mãos da mesma família há três gerações, aponta-se a reabertura para agosto. Noutro bairro típico da capital, a Parreirinha de Alfama deverá abrir portas no mesmo mês. A dar música desde 1950, está geralmente repleta de turistas, atraídos pelos petiscos e pela qualidade dos espetáculos, cujo elenco conta com muitas vozes jovens. Em setembro, poderá visitar o Mesa de Frades, com “o fado mais tradicional possível”, profissional e amador. Pedro de Castro, guitarrista e dono do espaço, fala de uma casa sempre cheia, tanto de turistas como de portugueses, e acredita que o espetáculo é para todas as bolsas: “Existe muito a ideia de que fazemos preços só para turistas, e não é verdade. Acontece que uma casa de fados tem de praticar preços mais elevados, é preciso pagar aos músicos, existem mais encargos do que num restaurante normal, e isso faz com que não seja possível aos portugueses virem cá com muita frequência. Ainda assim, gosto de oferecer a todos a oportunidade de ouvir fado ao vivo, não estabelecendo consumo mínimo: a pessoa pode ir jantar ou apenas beber um copo, e usufruir do espetáculo.”
Da mesma opinião é Jorge Couto, proprietário da Casa da Mariquinhas, a casa de fado mais antiga do Porto, fundada em 1968. “Temos consumo mínimo de 37 euros, com menu completo. Não é muito distante dos preços de outras casas e tem o espetáculo incluído.” Lamenta que “não se eduque para o fado”, o que pode explicar que menos portugueses vão a estas casas. Em fase de preparação estão várias iniciativas para divulgar esta arte: um festival organizado pelas três casas de que Jorge Couto é responsável – A Casa da Mariquinhas, O Fado e o Mal Cozinhado -, oferta de vouchers para espetáculos numa das casas, edição de um livro e de um CD por alguns dos artistas mais relevantes dos 50 anos de história da Mariquinhas. Também na Invicta, o Mal Cozinhado, na zona ribeirinha, e o Dom Ramiro, que fica na castiça Rua de S. Victor e que acabou de reabrir, são boas apostas.
De Valença a Almancil
Fora de Lisboa, Porto e Coimbra (ver lista abaixo), torna-se mais difícil encontrar casas onde se ouça o fado. Mas ele vai sobrevivendo, mais timidamente, em restaurantes e tascas onde se realizam noites semanais temáticas. No Algarve, a exceção é o Arcadas do Fado, em Almancil, que a fadista Alexandra abriu há dois anos com o marido, José Gaspar. Sempre teve mais clientes portugueses: “Muita gente vinha porque conhecia a Alexandra das aparições na televisão, e agora começavam também a vir turistas, embora a pandemia tenha estragado um pouco isso”, diz José Gaspar, que sublinha não ser difícil reunir interessados, por ser a única casa do género na região. Não crê que isso se deva a desinteresse dos algarvios, mas antes por ser “uma coisa mais típica de Lisboa, mais associada a grandes centros urbanos”. A especulação imobiliária levou ao fecho do antigo espaço que Alexandra e o marido tinham na capital, e acabaram por escolher Almancil.
Existem outras casas, espalhadas um pouco por todo o país, embora não com a mesma representação. Exemplos disso são o TásCÁ, em Santarém, e o FATUM, em Valença. No primeiro há espetáculos nas noites de quinta; no segundo, ao sábado, quinzenalmente. O FATUM foi casa de fado durante 20 anos, até encerrar, “mas sempre houve gente a querer ir ao fado”, garante João Reis. Quando pegou no estabelecimento, queria abrir um restaurante, “não tinha a ideia do fado”, mas decidiu manter-se fiel às origens da casa e correu bem. Pela proximidade com a fronteira, conta que grande parte da clientela é espanhola, “uns 70%”. Tal como no TásCÁ, o fado é profissional, mas existe flexibilidade em relação à participação do público: “Dependendo do ambiente, também pode haver amador”. Em Lagos, há ainda O Cangalho, com noites de fado às terças.
Em Coimbra há de tudo
A cidade dos estudantes tem, naturalmente, uma variante particular do fado, e o à Capella – que fica mesmo numa antiga capela e tem atuações diárias – e o Fado ao Centro são espaços bem conhecidos de quem gosta desse tipo de música. América Braga, do Fado ao Centro, conta que o espaço, com dez anos, foi criado por músicos, antigos estudantes da Universidade de Coimbra, com grande gosto pelo fado típico da cidade. “Atuam músicos residentes e convidados, e a história da cidade e a tradição académica estão espelhadas no ambiente, nas conversas e nas paredes do espaço.” Há música todos os dias do ano. Aqui não existe serviço de bar ou restaurante – todas as atenções são centradas no espetáculo – mas ao final é sempre servido um Porto de Honra.
Uns passos à frente na mesma rua, bem no centro histórico da cidade, há o Quebra o Galho, que retoma agora a atividade pós-estado de emergência, apenas com espetáculos à sexta e ao sábado. Aí, diz Luís Barroso, responsável pelo espaço, “o fado é o de Lisboa”, profissional, embora exista também espaço para a variante vadia.
Fado fichado
Mesa de Frades
Rua dos Remédios 139, Lisboa
Reabertura em setembro
A Parreirinha de Alfama
Beco do Espírito Santo 1, Lisboa
Reabertura em agosto
A Severa
R. das Gáveas 51, Lisboa
Reabertura em agosto
Dom Ramiro
Rua de São Victor 36, Porto
Espetáculos esporádicos
Consumo mínimo: 35 euros
A Casa da Mariquinhas
Rua de São Sebastião 25, Porto
Espetáculos diários
Consumo mínimo: 37 euros
Mal Cozinhado
Rua do Outeirinho 13, Porto
Espetáculos diários
Consumo mínimo: 30 euros
Fado ao Centro
R. Quebra Costas 7, Coimbra
Espetáculos diários
Entrada: 6 a 12 euros
àCapella
Pátio Vitória 53, Coimbra
Espetáculos diários
Consumo mínimo: 5 euros
Quebra o Galho
Rua Quebra Costas 12, Coimbra
Sextas e sábados
Consumo mínimo: 5 euros
FATUM
Casamata n.º 2, Portas da Coroada, Valença
Espetáculos quinzenais ao sábado
Consumo mínimo: 30 euros (bebida à parte)
TásCÁ
Rua Arco de Manços 8, Santarém
Espetáculos à quinta-feira
Sem consumo mínimo
O Cangalho
Zoo de Lagos – Medronhal – Quinta Figueiras, Lagos
Espetáculos à terça-feira
Consumo mínimo: 20 euros
Arcadas do Fado
Avenida 5 de Outubro 85, Almancil
Espetáculos diários
Consumo mínimo: 20 euros