Cobras: despachar um visitante indesejado

Só existem duas espécies portuguesas venenosas: a víbora-cornuda e a víbora-de-seoane

E se de repente abrisse a porta de uma divisão e desse com uma cobra? As mais variadas reações podem ocorrer, dependendo do medo que se tem do bicho. Saiba o que fazer no caso de se deparar com esse - tímido, na maior parte das vezes - réptil em casa.

“As cobras têm mais medo de nós do que nós delas.” João Loureiro, diretor do Departamento de Conservação da Natureza e da Biodiversidade do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), não tem dúvidas.

Quando é encontrada uma cobra no interior de uma residência, a maior dificuldade é apanhá-la, pois o réptil tende a esconder-se. A atitude mais sensata é tentar confinar o animal a um espaço onde seja fácil vê-lo e apanhá-lo. E, muito importante, não lhe tocar. “Ninguém deve mexer num animal se não tem experiência e não o sabe fazer.” Em seguida, deve chamar-se a PSP ou a GNR, pois dispõem de brigadas próprias (BriPA e SEPNA, respetivamente) para os recolher.

Após passarem por um centro de recuperação, as cobras autóctones são devolvidas ao habitat natural; as exóticas são acolhidas em jardins zoológicos, o único espaço disponível para esse fim. O biólogo do ICNF diz que, apesar de não ser preocupante, o número de cobras exóticas encontradas tem vindo a aumentar, pelo crescente interesse em comprar e manter em cativeiro esse tipo de animais. João Loureiro crê que a maior parte dos casos se deve a abandono e não a fuga, já que esses animais habitualmente são grandes e não têm tanta facilidade em escapar-se. “Muitas vezes são os donos a libertá-las, porque a cobra cresce muito, porque não têm condições de a manter…”

Geralmente, esses répteis só invadem uma zona urbana se algum incidente tiver perturbado o seu habitat, como um incêndio. “Podem entrar em carros, já que gostam de sítios quentes e escuros, ou em casas à procura de alimento: ratos, pequenos animais”, explica João Loureiro. Se os habitantes não se sentirem perturbados com a presença da cobra, podem esperar que ela se vá embora sozinha, o que acontecerá, à partida, quando o alimento acabar. Não é boa ideia pegar no animal e deixá-lo numa zona de mato próxima, se não se souber se a espécie é autóctone. O biólogo lembra a importância desses animais na manutenção do equilíbrio dos ecossistemas.

Só existem duas espécies portuguesas venenosas: a víbora-cornuda e a víbora-de-seoane. Podem ser distinguidas pelo tamanho reduzido, pela cabeça triangular, nariz arrebitado e pupila vertical em vez de redonda. “Em princípio, o veneno dessas víboras não é mortal, praticamente não existem mortes registadas por isso. Mas é importante recorrer sempre ao hospital”, avisa João Loureiro. Ser mordido por qualquer outra espécie será apenas um episódio doloroso. Se acontecer, não deve chupar o veneno nem mover-se muito. Tente manter a calma e procure ajuda médica.