Caspa? A culpa não é do verão

A caspa é uma patologia comum, que afeta homens e mulheres (Foto: Unsplash)

A caspa piora durante o verão? Não há provas científicas que comprovem que assim seja. Por um lado, a descamação do couro cabeludo é comum nos meses frios, quando se lava menos a cabeça e há mais oleosidade. Por outro, as altas temperaturas de verão aumentam a transpiração e o suor. Mais gordura, mais caspa. Esta inflamação bacteriana não é exclusiva de uma estação do ano. Há determinados aspetos a ter em conta.

A caspa é dermatite seborreica, doença inflamatória benigna que se localiza em áreas ricas em glândulas sebáceas, sobretudo no couro cabeludo, na face, no tronco. As células renovam-se a um ritmo acelerado e, nesse processo, formam-se películas inestéticas. O verão não é o problema até porque a luz ultravioleta direta tem um efeito anti-inflamatório em peles escamosas, desde que não se abuse dessa exposição solar.

É uma patologia comum, afeta homens e mulheres, surge com mais força na puberdade e, muitas vezes, não se sabe a causa. “Não significa que haja um mau cuidado de higiene”, garante António Massa, dermatologista. “A sazonalidade pode ser um fator, mas a relação maior tem a ver com o sistema nervoso, stresse, ansiedade, cansaço.” Sensações habitualmente menos evidentes no verão. “A caspa está mais associada ao estilo de vida. Muitas vezes, o próprio relaxar, férias, praia, uma vida mais calma e o próprio efeito do sol permitem uma melhoria desta patologia”, adianta o especialista.

A pele produz gordura em determinados sítios, se as leveduras que habitam no corpo gostam dessa matéria, então vão crescer. “Se crescem e se há inflamação, a pele descama”, especifica João Maia Silva, dermatologista. O tempo quente pode diminuir o problema. “A exposição ao sol é anti-inflamatória, desinflama, logo menos caspa, menos seborreia. A exposição ao sol pode ajudar, mas não é a causa”, frisa. O princípio de que o sol melhora a psoríase pode, de certa forma, ser aplicado à caspa.

No fundo, é uma questão ambiental e de oportunidade. O problema é se estão criadas as condições ambientais ideais para que a caspa surja. João Maia Silva adianta que a alimentação, o stresse, a prática de desporto, o descanso ou a exposição ao sol são fatores a ter em conta. Se não há equilíbrios saudáveis, a dermatite seborreica pode dar sinal de vida e surgir em vários sítios: couro cabeludo, sobrancelhas, asas do nariz, atrás e dentro das orelhas, no meio do peito, debaixo dos seios, virilhas e axilas, nas regiões com pregas. Áreas mais seborreicas que produzem gordura no nosso corpo e que podem agravar a inflamação.

Lavar, massajar, não arranhar

Leonor Girão, especialista em dermatologia e venereologia, lembra que a caspa está relacionada com os microrganismos que moram no couro cabeludo. “Há fungos que crescem connosco e que crescem em determinadas condições.” A temperatura e as condições a que cada um está sujeito são fatores relevantes. “Muito calor, muita transpiração, mais caspa”, refere. “Mais suor, mais transpiração, mais o fungo cresce e provoca a tal inflamação que origina a caspa”, acrescenta. Seja verão, seja inverno. Um chapéu na cabeça resolve? Depende. O chapéu protege do sol e um modelo fechado, demasiado tapado, pouco arejado ou fresco, aumenta a transpiração. Se o suor aumenta, o couro cabeludo inflama, a caspa aparece.

Couro cabeludo irritado, descamação abundante, películas amareladas. Caspa na cabeça. O ciclo de coça a comichão, com probabilidade de provocar ferimentos ou até mesmo uma infeção, não é o melhor caminho. Ignorar o problema também não. O que fazer? Lavar a cabeça com frequência, todos os dias se necessário, massajar o couro cabeludo com a ponta dos dedos, não arranhar – unhas sujas podem causar uma infeção secundária, o que não convém.

Leonor Girão aconselha a utilização de “um champô anticaspa que diminua a oleosidade do cabelo” ou um champô antifúngico apropriado, “de forma a que o fungo não se desenvolva.” No verão, lava-se o cabelo mais vezes, normalmente utiliza-se água em abundância, evita-se a oleosidade do couro cabeludo. João Maia Silva também sugere um champô anticaspa que mate o que anda a descamar a cabeça. O objetivo é “criar uma oportunidade ambiental para matar os bichos, baixar as colónias e diminuir a caspa.” Mas isso só não basta. É preciso tratar da manutenção, atacar o problema com regularidade, não apenas numa ocasião de crise. “Senão as leveduras que habitam na nossa pele vão voltar a colonizar aquela zona. As pessoas que estão bem não devem deixar de usar completamente.”

Se o champô específico não for suficiente, então é preciso “uma abordagem mais orientada”, sublinha António Massa, o que inclui medicação oral. Tudo para tratar dessa descamação que dá cabo da cabeça a muita gente.

Factos e dicas

  • A caspa resulta de uma descamação excessiva do couro cabeludo.
  • O responsável pela caspa é um fungo microscópico que cresce e provoca uma inflamação que origina a descamação.
  • O sistema nervoso, o stresse, a alimentação, o cansaço, as alterações emocionais, o sistema imunitário debilitado e o estado de saúde são fatores que podem agravar a “pitiríase capitis”, nome científico da caspa.
  • O tratamento-padrão é a aplicação de champôs com cetoconazol, sulfureto de selénio, piritionato de zinco, piroctona olamina e derivados de alcatrão. Devem ser alternados com champôs de frequência suaves.
  • Em casos mais graves, as escamas ficam espessas, aglomeram-se e aderem ao cabelo, num quadro semelhante à crosta láctea. Os corticoides tópicos são um recurso quando há muito prurido.
  • A frequência do uso dos champôs de tratamento deve ser reduzida quando a caspa desaparece, mas não suspensa.