Cancro do rim, o tumor maligno de sintomas silenciosos

Os sintomas, muitas vezes ausentes, só surgem numa fase tardia (Foto: Freepik)

Afeta duas vezes mais os homens do que as mulheres, é o 8.º tumor mais comum no sexo masculino, geralmente é diagnosticado entre os 50 e os 70 anos, e tem um desenvolvimento discreto. Há, porém, alguns sinais de alerta.

O cancro do rim corresponde a 95% dos tumores renais primários malignos e, no nosso país, é o 13.º mais frequente entre todos os tipos de cancro. É um dos tumores malignos do aparelho genito-urinário e representa entre 2 a 3% das causas de morte por cancro em todo o Mundo. A localização anatómica dos rins permite que o crescimento do tumor passe despercebido, sem sinais de alerta, até atingir dimensões consideráveis.

“O cancro do rim é geralmente assintomático, sendo o seu diagnóstico realizado após identificação de uma lesão renal em ecografia de rotina. Contudo, os doentes poderão apresentar uma tríade clássica de sintomas, que consiste em dor lombar, hematúria (sangue na urina) e massa abdominal palpável. Cerca de 25 a 30% dos casos são diagnosticados já com doença avançada (presença de metástases), apresentando sintomas como perda de peso, febre tumoral, falta de apetite, dor óssea, dispneia, anemia, cálcio elevado no sangue (hipercalcemia), fenómenos tromboembólicos, entre outros”, adianta Daniela Macedo, assistente hospitalar de Oncologia Médica do Hospital Lusíadas de Lisboa.

A presença anormal de sangue na urina é comum em cerca de 60% dos casos, a dor lombar em 40%, a massa renal palpável em 30 a 40%, este é, geralmente, um sinal muito tardio que resulta do efeito das dimensões do tumor e da constituição física do doente. As perturbações clínicas de perda de peso, perda de apetite, febre, suores e tensão alta, desenvolvidas por cerca de 20% dos doentes, são também sinais a ter em consideração.

O cancro do rim é o 14.º tipo de cancro mais comum em todo o mundo, com mais de 403 mil novos casos registados em 2018

Os sintomas, muitas vezes ausentes, só surgem numa fase tardia e, habitualmente, suspeita-se do diagnóstico durante a avaliação de outro problema ou de um rastreio de rotina. “Apesar de se tratar de um tumor pouco frequente, a sua incidência tem vindo a aumentar, sobretudo nos países desenvolvidos, graças à generalização dos métodos complementares de diagnóstico”, refere a especialista.

A sua origem é considerada esporádica e as síndromes hereditárias representam 2 a 5% dos casos. “Os principais fatores de risco são o tabagismo (risco duas vezes superior), a hipertensão arterial, a obesidade e a doença renal policística adquirida, presente em 35 a 50% dos insuficientes renais a fazer diálise há mais de 10 anos.” “Esta patologia é muito mais frequente no sexo masculino, num ratio de 2:1, tendo como idade média ao diagnóstico os 64 anos”, acrescenta Daniela Macedo.

Todos os anos, cerca de 338 mil pessoas são diagnosticadas com cancro do rim em todo o Mundo. É o 6.º tumor mais frequente no conjunto da União Europeia, com uma incidência de 12,4 novos casos por 100 mil habitantes. No nosso país, em 2018, foram diagnosticados 1 301 novos casos e 507 pessoas morreram da doença.

Os principais órgãos de metastização são os gânglios, pulmão, osso e fígado

Na altura do diagnóstico, é fundamental saber se a doença se encontra localizada ou avançada para a melhor decisão de tratamento. “Esta decisão será sempre multidisciplinar. Para isso, é necessário proceder ao estadiamento imagiológico, fazendo parte a tomografia computorizada torácica-abdominal e pélvica e, por vezes, a ressonância magnética abdominal e cintigrafia óssea. Para o diagnóstico ser definitivo, terá de ser histológico, sendo o subtipo mais frequente o carcinoma de células claras do rim (75-80%)”, explica.

A cirurgia é o tratamento curativo de eleição e é a única abordagem em fases localizadas. É possível a cirurgia parcial ou radical, de acordo com o tamanho do tumor. Segundo Daniela Macedo, em situações de doença avançada, “é necessário ter em consideração vários fatores de prognóstico, como anemia, elevação de glóbulos brancos e plaquetas, tempo desde o diagnóstico e o aparecimento de metástases, que são categorizados dividindo os doentes em bom, intermédio e mau prognóstico, com probabilidades de sobrevivência em decrescendo, respetivamente.”

Tabagismo, diabetes, hipertensão, obesidade e antecedentes familiares de cancro renal são alguns fatores de risco

Nesta fase, refere, a cirurgia é equacionada se existir lesão renal complicada de infeção ou hemorragia. Já a cirurgia de metástases poderá ser equacionada se houver poucas lesões metastáticas e essa abordagem tem impacto na sobrevivência do doente. “Na sua grande maioria, os doentes serão candidatos a tratamento sistémico, que passará por tratamentos alvo e imunoterapia, uma vez que o cancro do rim é um tumor muito quimio resistente e rádio resistente”.

Na questão do tratamento tem havido boas notícias. “Mas foi mais recentemente, com os novos fármacos de imunoterapia, que os ganhos de sobrevivência foram mais expressivos, sobretudo nos grupos de prognóstico intermédio e mau, onde até então eram baixos.” Daniela Macedo refere, a propósito, que “os inibidores do checkpoint imunitário trouxeram respostas mantidas durante muitos meses e até mesmo respostas completas, sendo esta a nova abordagem preferencial para estes doentes em monoterapia ou em combinação com os inibidores tirosina cinase”.