
Portugal é, segundo dados da Organização Mundial da Saúde, o país da Europa Ocidental com a mais elevada taxa de incidência de cancro do colo do útero. As mulheres devem fazer rastreios regularmente para despiste ou diagnóstico de complicações oncológicas.
Todos os dias, no nosso país, morre uma mulher com cancro do colo do útero. Todos os anos, são diagnosticados cerca de mil novos casos, dos quais 390 acabam por ser fatais. É um dos tipos de cancro mais frequentes nas mulheres e está associado a uma infeção persistente por um tipo de Papilomavírus Humano (HPV) de alto risco, que não foi detetado e tratado a tempo.
Daniel Pereira da Silva, presidente da Federação das Sociedades Portuguesas de Obstetrícia e Ginecologia, avisa que este cancro pode e deve ser evitado e prevenido. “É dos poucos casos em que temos essa oportunidade. Mas a verdade é que, na maioria das vezes, as mulheres não o fazem. Como consequência este é o segundo cancro mais frequente e aquele que representa cerca de 10% de todos os cancros no sexo feminino. Em Portugal, a incidência tem vindo a baixar, mas continua relativamente alta no contexto dos países mais desenvolvidos da Europa”, sublinha.
As mulheres entre os 25 e os 65 anos representam o grupo de maior risco. Estima-se que 75 a 80% das pessoas sexualmente ativas tenham contacto com o vírus em alguma altura das suas vidas. A infeção pelo HPV é condição necessária para o desenvolvimento da doença, embora não suficiente, uma vez que a maior parte das mulheres infetadas não desenvolve cancro, acontece em menos de 1% dos casos. “São necessários outros fatores que facilitam a ação carcinogénica do vírus, como o tabagismo, outras infeções, uso da pílula, início precoce das relações sexuais, entre outras circunstâncias”, adianta o especialista.
Numa fase mais avançada, quando a doença já está instalada, podem surgir sintomas como perdas de sangue fora do período menstrual ou após a relação sexual, corrimento vaginal anormal e com mau odor e dor pélvica.
A identificação do agente viral levou ao desenvolvimento de vacinas profiláticas. Segundo Daniel Pereira da Silva, “os excelentes resultados das vacinas fundamentam a expectativa de uma prevenção primária eficaz em mais de 90% dos casos.” “Os resultados de estudos com cerca de 20 anos de duração, realizados na Finlândia, mostraram que a vacina foi 100% eficaz, sendo este um feito espetacular”, revela.
A vacina faz parte do Plano Nacional de Vacinação e, atualmente, está disponível para raparigas dos 10 aos 17 anos. Em breve, irá também incluir os rapazes de 10 anos. “Esta decisão traduz um importante investimento por parte do Estado, o que é de realçar. No entanto, ficam de fora muitas mulheres. Existe, ainda, o conceito errado de que não vale a pena vacinar as mulheres que já tiveram relações. Contudo, hoje sabemos que a vacina é válida para todas as mulheres, independentemente da idade. Há demonstração de eficácia até aos 45 anos e está bem estabelecido que as mulheres com lesões do colo do útero devem incluir a vacina no seu plano de tratamento. Mais vale tarde do que nunca!”
ATUALMENTE, MAIS DE 90% DAS MULHERES PORTUGUESAS ATÉ AOS 27 ANOS, COMPLETADOS EM 2019, ESTÃO VACINADAS CONTRA O VÍRUS DO PAPILOMA HUMANO
Como meta para 2020, o Programa Nacional para as Doenças Oncológicas estabeleceu expandir a cobertura dos rastreios oncológicos de base populacional a todo o território nacional e aumentar as taxas de cobertura populacional do rastreio do cancro do colo do útero para 75%. Até porque se trata de uma doença que se transmite muito facilmente durante o contacto sexual, genital ou oral. A infeção pelo HPV é assintomática, o rastreio é essencial. Qualquer pessoa sexualmente ativa pode estar infetada e infetar o seu parceiro sem saber.
A prevenção secundária é assegurada pelo rastreio. O teste de Papanicolau tem sido rastreio recomendado. “Acontece que, atualmente, já evoluímos para um teste mais eficaz – o teste ao HPV. Atendendo à sua eficácia, só é necessário repeti-lo de cinco em cinco anos, quando é negativo, o que é fantástico. Com um teste simples, realizado neste intervalo de tempo, a mulher pode prevenir o cancro do colo do útero, que é tão frequente e agressivo.” O teste está acessível no nosso país, nomeadamente nos centros de saúde e é um direito da mulher dos 25 aos 60 anos. Há ainda testes de auto colheita, a mulher faz a colheita em casa e leva ao laboratório para analisar.
O presidente da Federação das Sociedades Portugueses de Obstetrícia e Ginecologia lança vários apelos, recomendações importantes, conselhos a reter. “Todos sabemos que nem sempre a ida à consulta é fácil – a vida profissional pode não facilitar, os horários das consultas podem não ser os mais adequados e existem outras prioridades. Enfim, existem muitas razões para não ir à consulta, mas não se esqueça de si. Basta fazer o teste de cinco em cinco anos. Está nas suas mãos ver-se livre de um risco tão importante. A vacina e o rastreio são a garantia de que fica livre de uma grande ameaça!”