Portugal é pequeno em área mas rico em história e diversidade cultural, inspirando também a arte que se vê, se veste ou é orgulhosamente exibida nos pés. Assim provam várias marcas de calçado nacional que, nos últimos anos, têm surpreendido com coleções de alma lusa. As propostas são à medida das tendências atuais, respeitando o melhor do legado regional e as mais distintas tradições.
Desde 2016 e a partir de Viseu, a WalkwithArt começou por imprimir os azulejos que descrevem o Rossio, bem no centro da cidade de Viriato. Foi o pontapé de saída para afirmar a marca, cuja última edição versa a arte rupestre de Foz Côa e está, por enquanto, à venda apenas no Museu Côa, mas “não é exclusiva”. “Todos os modelos são de edição limitada, aliando a arte ao saber fazer”, afirma Cláudia Antunes que, a par do marido, Jorge Amaral, apostou numa “marca com assinatura nacional”. “O nome em inglês foi para ser entendido em todo o Mundo”, explica a responsável, notando que é tudo feito cá. As sapatilhas estrearam o negócio, mas a WalkwithArt alargou a oferta a carteiras e acessórios. E já está a ser preparada uma segunda edição dedicada a Lisboa, depois do sucesso da estampa com o painel de azulejos do Miradouro de Santa Luzia.
No verão de 2014, a Lazuli saiu da caixa com a azulejaria portuguesa em foco. “Cada coleção é inspirada numa determinada época”, revela à NM Jeanette Vieira, uma das mentoras do projeto. Para esta estação, a marca partiu dos azulejos portugueses no Brasil. “No início do século XX, o pintor Jorge Colaço foi um dos principais responsáveis por painéis de azulejos no Brasil. Apesar do azul-cobalto ser o principal tom dos azulejos portugueses, a coleção tem muitas cores naturais. A madeira e a corda estão presentes em vários modelos e conferem um ar tropical próprio do Brasil”, descreve a empresária. Mulheres entre os 25 e os 45 anos são o público-alvo, mas o leque abrange as que primam pela diferença. Metade dos modelos é vegan, em prol da sustentabilidade.
Amor aos seus pés
Do Minho para o Mundo, a Namorarte abriu o tradicional lenço dos namorados para, a partir de 2013, criar sapatos com notas românticas e para todos os estilos. As quadras de amor fazem parte da coleção permanente, mas “a marca dedica-se sobretudo a produzir sapatos personalizados”. Assim frisa a diretora, Nancy Oliveira, sublinhando que produzem do sapato mais simples ao mais complexo: “Fazemos sapatos de dentro para fora em quase todas as tipologias, desde a sapatilha ao modelo com salto, e cada cliente é uma marca”.
Os sapatos com lenços dos namorados alavancaram a Namorarte e Nancy conta que as clientes os usam “em circunstâncias mais formais, nomeadamente no dia do casamento, e depois no dia a dia com o orgulho de ser português”. E acrescenta: “Sentimos a emoção de usar algo fora da caixa com um ícone cultural e com interesse, mantendo o gosto pela moda”. Na montra, aos inevitáveis corações, juntam-se modelos com a filigrana de Viana do Castelo bordada.
Um Carnaval especial
Ainda antes de serem declarados Património Cultural Imaterial da Humanidade pela UNESCO, os Caretos de Podence foram aposta de uma família de Felgueiras. A ideia saiu da cabeça de Maria Duarte, que contou com a experiência de designer da mãe, Susana Ribeiro, e do pai, Miguel Duarte, na indústria do calçado. A Entrudo saiu para o mercado em maio de 2017 e guiou-se “pela adoração” que sempre tiveram pelo carnaval transmontano. “Quisemos fazer algo diferente, elegante e confortável, com aplicações todas manuais”, recorda Susana.
Segundo a criadora, “os Caretos foram a fonte de investigação”, por isso mantêm-se fiéis às franjas e cores. “A partir daí, como cores não faltam, dá para fazer outras coisas, entre elas os entrançados que também apresentamos. E agora temos uma linha de almofadas que as pessoas muito apreciam”, realça Susana Ribeiro, antecipando ainda o lançamento de umas “sapatilhas diferentes” para breve.
Decalques da natureza
Com base na Madeira, a DOL Portugal é, desde novembro de 2018, como que um postal da ilha, com quatro modelos recortados à imagem da “ondulação da paisagem da montanha até ao mar”. A descrição pertence a Sofia Drummond, uma das suas fundadoras que, com a sócia Sara Lopes, atravessa regularmente o Atlântico para acompanhar o fabrico em São João da Madeira.
Satisfeitas com a recetividade do público, Sofia e Sara já estão a pensar “mais além”. Ou seja, “num novo modelo inspirado no bordado da Madeira, em algodão orgânico produzido no Alentejo, que foi adiado por causa da pandemia”.
Embora diferentes, todas as marcas exibem o “made in Portugal” como sinónimo de qualidade, a par do conforto que acompanha cada passo com identidade.