Não, os bumerangues não são exclusivos da Austrália. Sim, os bumerangues eram também comuns na Europa e no norte de África. Não, os bumerangues não serviam como arma direta de caça. Três mitos assim desfeitos de uma assentada ajudam a explicar o trajeto histórico de um objeto que começou por ser precioso para quem fazia da floresta casa e é hoje, quase apenas e só, um instrumento recreativo.
Os primeiros bumerangues surgiram no Egito, provam-no réplicas encontradas em túmulos de faraós. Idêntica descoberta surpreendente deu-se também na Polónia. Não em túmulos de faraós, que naquelas bandas não existem, mas em escavações arqueológicas realizadas na gruta de Oblazowa, onde, em 1987, foram detetados restos de um artefacto em forma de bumerangue junto ao esqueleto de um mamute que terá vivido há 23 mil anos. Na Sardenha (Itália) e na Califórnia (Estados Unidos) houve igualmente registos do género.
Mas foi a Austrália que celebrizou os bumerangues e os exportou enquanto uma das imagens identitárias dos aborígenes, povo que dominava a ilha continente antes da chegada dos primeiros colonizadores britânicos, no final do século XVIII. De facto, esses instrumentos de madeira em forma de V aberto que voam baixo e retornam (quase) sempre ao ponto de partida eram praticamente inseparáveis dessas comunidades, que deles se aproveitavam para acender fogo e enquanto arma pessoal de defesa.
A caça era outro dos motivos em que o uso frequente do bumerangue se aplicava. Não servia, propriamente, para matar animais, mas para os atrair, como no caso das aves que, depois, eram capturadas quando voavam mais rasas ao chão, ou para os atingir, como os pobres cangurus, que, atordoados com o impacto, se tornavam presa mais fácil.
Atualmente, os bumerangues, que deixaram de ser unicamente de madeira e adotaram novos materiais como a fibra, servem unicamente para atos lúdicos e desportivos. E até foram alvo de experiências no espaço, para perceber como se comportam em ambiente de gravidade zero.