Botelho Miguel: os trabalhos do general

As opiniões dividem-se. Há quem o defina “tranquilo e com sentido de missão”, há quem o recorde como “o pior comandante de sempre da GNR”. Há quem releve “a grande sensibilidade”, há quem fale de um militar “arrogante, incapaz de ouvir os outros”. Eduardo Cabrita garante que é o homem certo para “revolucionar” o SEF.

O homem certo ou a pior escolha? A nomeação de Luís Francisco Botelho Miguel para a presidência do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras divide opiniões fora e dentro do SEF, em crise depois da morte do ucraniano Ihor Homeniuk sob a guarda de três inspetores.

Desde logo por ser militar. “Uma deriva militarista não é solução: nem serve a segurança de Portugal e do espaço europeu, nem combate a criminalidade transnacional, nem protege as vítimas do tráfico de seres humanos”, afirma Acácio Pereira, presidente do SCIF-SEF, Sindicato da Carreira de Investigação e Fiscalização do serviço. “Colocar um militar à frente do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras é um péssimo sinal político. É estragar e negar mais de 30 anos do mais civilista serviço de segurança e polícia de imigração de Portugal”, acrescenta em comunicado o sindicalista.

“Não foram os militares que armaram o SEF, que fardaram o SEF ou que puseram os inspetores do SEF a fazer a pista de lodo dos Fuzileiros”, responde o major General Agostinho Costa, vice-presidente da Associação Eurodefense-Portugal e membro do Grupo de Reflexão Estratégica Sobre Segurança da Universidade de Lisboa. Para este oficial, “o argumento de que a escolha de um militar corresponde a militarização do serviço não colhe”. Pelo contrário, garante: “O SEF está em crise e se há especialistas em lidar com crises eles são os militares”. Não tem dúvidas. “Botelho Miguel é homem certo para alterar a imagem lamentável que o SEF deu e impedir a repetição de ações atentatórias dos direitos humanos.”

O perfil profissional de Botelho Miguel também cava trincheiras. Entrou na GNR em 2010, vindo de um percurso no Exército e de diversos cargos de alta responsabilidade. Em 2018, assumiu as funções de comandante-geral da Guarda por nomeação do ministro Eduardo Cabrita. Agostinho Costa fez parte da sua equipa. “Conheço-o bem. É um oficial oriundo da artilharia, onde impera a racionalidade. É emocionalmente estável, tranquilo, com sentido de missão, sem uma visão paroquial das instituições.”

César Nogueira é o presidente da Associação de Profissionais da Guarda e tem opinião oposta. “Foi o pior comandante-geral da GNR. Com ele, a GNR andou para trás alguns anos.” O sindicalista recorre à ironia. “Se for para extinguir o SEF, então é a escolha acertada. A destruir é muito bom.” Deseja boa sorte aos inspetores e conclui: “Se fizer no SEF o que fez na GNR, então o SEF tem mais um problema em cima”.

Longe de merecer consenso está também a avaliação da pessoa. “Tem uma carga formal mesclada com empatia. Pode parecer um pouco distante, mas é capaz de se emocionar. Tem grande sensibilidade e humanidade”, diz Agostinho Costa, que encontra no amigo bom senso, sentido de serviço, comedimento e noção institucional. “Arrogante até com os seus pares, é incapaz de ouvir e não admite ser contrariado”, contrapõe César Nogueira.

Enquanto Eduardo Cabrita afiança ser este o homem certo para fazer a revolução no SEF, Acácio Pereira apela “aos deputados e aos partidos”, para que defendam um serviço de segurança e polícia integral de imigração “civilista” e “humanista”.

Medalha de Ouro de Serviços Distintos de Segurança Pública por “elevado valor e mérito reconhecidos”, Botelho Miguel parece não suscitar o meio-termo. Ou se ama ou se odeia.

Luís Francisco Botelho Miguel
Cargo:
presidente do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras
Nascimento:
30/11/1958 (62 anos)
Nacionalidade:
Portuguesa (Lisboa)