Anzol: até a Bíblia o consagrou

A história do anzol moderno começa verdadeiramente com a invenção do aço (Foto: Unsplash)

Considerado pela “Forbes” uma das 20 ferramentas mais importantes da história, o anzol terá nascido há dezenas de milhares de anos, numa ilha tipo postal.

Historicamente, a ilha de Okinawa, no Japão, é conhecida pela batalha homónima, considerada ainda hoje uma das maiores da História. Aconteceu nos derradeiros meses da Segunda Guerra Mundial (abril a junho de 1945) e opôs americanos a japoneses, redundando numa premonitória vitória para os primeiros. Hoje, Okinawa será mais facilmente identificável pelas imagens tipo postal que exibem praias paradisíacas a perder de vista e água tão cristalina que parece tingida de céu. O que facilmente passa despercebido a propósito desta ilha, com uma dimensão de 1 200 quilómetros quadrados, é que nela foram descobertas as primeiras “amostras” de anzóis. Eram feitas de conchas de caracóis do mar e terão sido criadas há nada menos do que 22 mil anos. Outros exemplares quase tão antigos foram entretanto descobertos em Timor-Leste, na Papua Nova Guiné e ao largo da costa do México.

Se dúvidas houvesse quanto à antiguidade deste objeto, que durante milhares de anos foi fundamental para assegurar a sobrevivência da espécie humana, a própria Bíblia poderia ajudar a dissipá-las. “Conseguiria içar um leviatã [alegado monstro marinho] com um anzol?”, pode ler-se no Livro de Jó, do Antigo Testamento. Ora, com tantos anos de existência não admira que o engenho humano tenha providenciado anzóis feitos de quase todos os materiais. Além das conchas, também a madeira, os chifres de animais, a pedra, o bronze, o ferro e até os ossos humanos serviram como matéria-prima para a criação do objeto. Muitas vezes, a solução passava mesmo por uma junção de vários desses materiais.

Mas a história do anzol moderno começa verdadeiramente com a invenção do aço. A primeira referência a anzóis feitos deste material surge num tratado de pesca publicado em Londres em 1496. Vê-los disponíveis em loja, e com verdadeira qualidade, foi outra história. Só aconteceu quase dois séculos depois, graças a um britânico chamado Charles Kirby que, durante décadas, produziu os melhores anzóis do mercado. O “monopólio” só terminou quando a sua técnica se foi disseminando. Daí até ver os anzóis de Kirby – ou múltiplas cópias destes – exportados para todo o Mundo foi um instante. Estima-se que os ingleses tenham liderado a produção desse objeto até ao final do século XX, altura em que terão sido ultrapassados pelos noruegueses. Hoje, numa curiosa ironia histórica, uma grande parte da produção chega-nos diretamente do Japão. Ah, falta dizer que em 2005 a “Forbes” considerou o anzol uma das 20 ferramentas mais importantes na história da Humanidade. “Provou ser um dos nossos instrumentos mais confiáveis. A pesca permite-nos comer sem o perigo da caça nem o árduo trabalho da agricultura”, justificou então a revista americana.