António Mota: este engenheiro é do Norte

António Mota é presidente do Conselho de Administração da Mota Engil (Ilustração: Mafalda Neves)

Aos quatro anos, fascinado pelo silvo das sirenes, queria ser bombeiro. Aos cinco, polícia, porque um polícia não teme ladrões. Aos oito, decidiu que seria engenheiro. Pelo pai, Manuel António da Mota, homem com a quarta classe, fundador em 1946 da Mota & Companhia, embrião do maior grupo português de engenharia e construção, referência internacional, diversificado em várias atividades: ambiente, transportes, energia, mineração e turismo. O pai – orgulho e referência maior de António Mota, celebrado na fundação a que a família deu o nome paterno, nos discursos anuais aos trabalhadores. “Eu era bom aluno, mas aos 12 anos tive um 10 a Francês e saí do quadro de honra. Não tive férias. O meu pai pôs-me a trabalhar no escritório. Ainda sei escrever com todos os dedos num teclado HCESAR”, conta à NM. Anota coincidências felizes: “O meu pai tinha quatro filhos – três raparigas e um rapaz -, e dez netos – seis raparigas e quatro rapazes -, exatamente como eu tenho”. Os netos, com idades entre um e oito anos, são a “felicidade diária” que este ano reuniu na casa da ilha do Faial. Uma algazarra: “Tive até de tirar o aparelho de audição que uso regularmente”.

Jorge Coelho e Francisco Seixas da Costa, colaboradores próximos, testemunham a devoção à família, a união com as irmãs, que afastou as habituais disputas pelo controlo da herança, mantendo familiar uma empresa entretanto cotada em bolsa.

Em 1999, abalança-se com uma OPA sobre a totalidade do capital da Engil SGPS; quando África treme atira-se à América Latina; atrai, agora, vendendo 30% do capital, uma gigante chinesa, a CCCC.

“Inteligência profunda e determinação notável. Desde sempre me pareceu saber o que queria e para onde queria ir”, releva Jorge Coelho. “Uma personalidade empática, que gosta da vida.” Por isso, “um homem de emoções”. Sobretudo quando joga o Benfica. “Sou ferrenho. Sabe do que eu gosto? De chegar a casa ao fim do dia e de ser o treinador do Benfica num jogo de computador.” O sportinguista Jorge Coelho dá-lhe “poucos problemas”. Mais trabalho tem com Gonçalo Moura Martins, CEO e fã do F. C. Porto.

Detesta perder. “Nem a feijões”, diz Jorge Coelho. “Vamos lá ver”, responde António Mota, “eu não gosto de perder, é verdade, mas admito o erro. O que me custa muito é que dos erros não se tirem lições”. Os trabalhadores, muitos na empresa há mais de 30 anos, conhecem a regra – “errar é normal, mas não pode ser a norma”. Ao contrário da maioria dos empresários nacionais, useiros em anglicismos, raramente recorre a expressões estrangeiras. “A linguagem que foge ao template”, pormenoriza Seixas da Costa. O que não o impede de “dominar muito bem todas as áreas em que a empresa opera em 24 países, com cerca de 300 mil funcionários”.

Um empresário do Norte “e por isso diferente, levando calor humano à relação empresarial”. Um gestor com “um pressentimento em relação ao futuro que lhe permite ver as coisas antes de nós”. Com uma teimosia rara, que mantém mesmo que fique isolado. “E tem razão quase sempre”.

Atento à sucessão, António Mota avança dez anos: “Vejo-me um não-executivo da Mota Engil menos presente do que hoje, mas disponível para dar o meu conselho” – se lhe for pedido, acrescenta depois de breve pausa. “Embora diga que sabe cada vez menos o que se passa, eu diria que ele sabe cada vez mais”, garante Jorge Coelho.

António Manuel Queirós Vasconcelos da Mota
Cargo: presidente do Conselho de Administração da Mota Engil
Nascimento: 11/05/54 (66 anos)
Nacionalidade: Portuguesa (Amarante)