André Ventura, a vacina e o confinamento

Rubrica "Partida, largada, fugida", de Susana Romana.
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Ora cá estamos, não é? Mais um fim de semana de confinamento. Acordaram às cinco da manhã para irem para a fila do hipermercado? Não vos fosse faltar um básico como leite, fruta, queijo Brie, pipocas de micro-ondas, tigela de plástico da Patrulha Pata, creme exfoliante para pés cansados ou uma máquina de waffles em forma da cabeça da Hello Kitty? O Governo não nos pode impedir de passar o domingo sem os nossos bens essenciais e inadiáveis!
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No fim de semana passado existiram algumas festas desmanteladas pela GNR, nomeadamente dois casamentos no Algarve. Adoro pessoas que fazem casamentos em plena pandemia. Resolvem logo aquela questão de decidir que miminho dão os noivos aos convidados como recordação: vai tudo corrido a um covid bem fofinho e memorável.
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Tal como no fim de semana anterior, também neste os restaurantes vão fechar a partir das 13 horas. Dramático para o setor, bem sei. Tal como é dramático o aproveitamento do Chega a esta questão, porque não se iludam: o couvert deles é para pagar mais à frente, e bem caro.
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Ventura tem vindo defender muito o setor, enquanto continua a queixar-se do RSI pago a membros da comunidade cigana, sem apresentar provas concretas de falcatruas. Não se iludam, profissionais da restauração: ele no fundo só defende aqueles estabelecimentos que metem sapos de porcelana medonhos junto à porta.
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E o milagre sueco, afinal, não vai coincidir com o milagre do Natal. Tido por alguns como o melhor exemplo mundial de como lidar com a covid (no clássico “vou ignorar até desaparecer”, que é o que eu faço com as birras do meu filho), a Suécia está agora a restringir aglomerações. A situação é considerada pelas autoridades de saúde como “extremamente grave”. Mas, se perguntarem a um dermatologista dos Médicos Pela Verdade, ele garante que está tudo bem. A DGS de lá que lhe ligue que ele viu uma cena no YouTube.
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Por cá, mesmo com as notícias de vacinas, Costa fez questão de lembrar que há luz ao fundo do túnel, mas “não sabemos o tamanho do túnel”. Tendo em conta o historial de obras públicas neste país, de certeza que as obras do túnel vão demorar e que há um primo empreiteiro metido ao barulho.
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A vacina anunciada nesta semana foi a da Moderna (não, não a da Universidade que faliu com estrondo, podem respirar fundo), que tem uma eficácia perto dos 95% e cujos efeitos secundários são descritos como uma sensação de ressaca. Eu sabia que a Susana dos 21 aos 30 anos que se estragava nos bares do Cais Sodré o fazia só por motivos de saúde, para se preparar para uma pandemia. Prefiro uma ressaca de vacina a sequer ousar beber Gold Strike outra vez.
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Um dos dados curiosos sobre a vacina da Moderna é que uma das responsáveis pelo seu desenvolvimento foi a Dolly Parton. Sim, a cantora. A artista country doou um milhão de dólares para ajudar a investigação. E nós aqui a Adelaide Ferreira nem cinco euros para a Agência Europeia do Medicamento.