Ana Rita Carlos: é o porquê das doenças que a move

Ana Rita Carlos é doutorada em Radiobiologia pela Universidade de Oxford (Foto: DR)

Ana Rita Carlos, 34 anos, sabe que já na escola primária escrevia textos em que dizia que queria ser cientista. “Esta ideia de contribuir para o conhecimento já vem desde muita nova”, recorda. Com o tempo e a evolução na carreira foi aprimorando o foco. “Comecei a desenvolver um certo fascínio em relação aos mecanismos de doença, a querer perceber porque é que as doenças acontecem.”

E assim acabou à frente de uma investigação que, em traços gerais, visa compreender os meandros do desenvolvimento da distrofia muscular congénita merosina-negativa (MDC1A), uma doença que se traduz numa perda progressiva de massa muscular e que além de não ter cura é muitas vezes letal. Tudo por culpa das mutações genéticas – em particular as relacionadas com o gene LAMA2, que provocam alterações nas células musculares ainda no útero materno e que, futuramente, comprometem a capacidade de andar e engolir. No limite a capacidade de respirar.

Doutorada em Radiobiologia na Universidade de Oxford (Reino Unido), em 2013, onde, entre outras coisas, estudou aprofundadamente os danos no DNA, Ana Rita Carlos regressou a Portugal para integrar o Instituto Gulbenkian de Ciência, onde se debruçou sobre a importância do metabolismo do ferro e da glucose na tolerância às doenças.

Irremediavelmente fiel à problemática do porquê das enfermidades, a investigadora mudou-se depois para o Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais (cE3c), da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. Foi lá que abraçou a investigação relacionada com as distrofias musculares congénitas, entretanto distinguida – em fevereiro, Ana Rita recebeu o prémio Mulheres na Ciência.

E afinal, numa perspetiva mais prática, em que consiste a investigação desta cientista? “O envelhecimento celular tem características específicas e nós conseguimos, recorrendo a determinados compostos, perceber se a célula se tornou ou não senescente. Ou seja, se entrou no processo de envelhecimento celular”, contextualiza, como ponto de partida. Para obter conclusões, a equipa de Ana Rita tem feito testes em ratos.

“Uma das experiências consiste em visualizar, através do microscópio, se as células se tornam azuis, o que só acontecerá com as células que entraram nesse envelhecimento e que vão, por isso, reagir ao composto.” Mas a investigadora não quer ficar por aqui. “Acreditamos que os resultados podem estender-se a outras distrofias e doenças.”