A alimentação antes, durante e depois do parto merece atenção. As necessidades nutricionais mudam nestas fases da vida de uma mulher. O importante é a qualidade, não a quantidade.
Cláudia Cunha é nutricionista e é mãe. No seu caso, foi na fase da amamentação que sentiu mais fome. A privação de sono terá contribuído para isso. De qualquer forma, sempre sopa feita, legumes cozinhados e água por perto. “O volume de sopa e legumes, bem como o seu teor em fibra, permite ter um esvaziamento gástrico mais lento e, por isso, manter-me saciada durante mais tempo”, salienta. Beber água é fundamental. “As nossas necessidades hídricas aumentam nesta fase. Não esquecer que estamos a produzir leite.”
Durante a gravidez, há várias recomendações para o que se coloca no prato. Uma alimentação saudável, suplementação adequada de vitaminas e minerais, manipulação segura dos alimentos, cuidados acrescidos com os crus que podem ser portadores de infeções, como a toxoplasmose e a salmonelose e que, por isso, devem ser cozinhados de forma simples ou muito bem lavados. Cláudia Cunha recomenda alimentos orgânicos sempre que possível, adoçantes naturais e usados com moderação, como o mel, e evitar tudo o que é industrializado, fast food, e enlatados em excesso. “O estado nutricional da futura mãe é importante, uma vez que influencia a saúde da própria mulher e do bebé. Costuma ser também necessária a suplementação de ácido fólico no período de preconceção, bem como durante toda a gestação”, sublinha.
Comer por dois faz ou não sentido durante fases tão especiais na vida de uma mulher? “Comer por dois não é saudável nem para a mãe, nem para o bebé”, responde Maria Inês Antunes, nutricionista e mãe, autora do livro “Comer para dois”. O importante para um bebé bem nutrido é a qualidade alimentar e não a quantidade. “Nesta fase, a prioridade é a nutrição. Adequar com rigor o balanço nutricional e as necessidades vitamínicas e minerais permite um bom desenvolvimento fetal e diminui as complicações durante a gravidez, porque o ambiente onde o bebé se desenvolve vai condicionar o seu desenvolvimento durante toda a vida”, acrescenta a nutricionista.
Cláudia Cunha pensa da mesma forma. “A verdade é que as necessidades energéticas estão aumentadas, mas não para o dobro”, refere. Depois do parto, uma alimentação saudável é essencial. A nutricionista aconselha seis a sete refeições por dia, nada de intervalos superiores a três horas e meia, mastigar calmamente, evitar alimentos açucarados, salgados ou com muita gordura. “Se estes aparecerem em substituição de alimentos saudáveis, além de prejudicarem a saúde, interferem na produção do leite”, avisa.
Prática e nutritiva
A ciência indica que há alimentos com determinados compostos que influenciam o período fértil. “Alimentos com propriedades anti-inflamatórias, cereais integrais, gorduras boas, frutas, vegetais, e a ingestão de certos micronutrientes, fazem parte da receita para uma melhor fertilidade nas mulheres e melhor qualidade do sémen nos homens”, adianta Maria Inês Antunes. A alimentação condiciona a fertilidade, bem como a saúde do bebé durante a primeira infância e o resto da sua vida, garante. “A preocupação com o que comemos torna-se exponencialmente mais relevante quando desejamos ter um filho”, diz a nutricionista que, quando engravidou, reviu todo o trabalho que tinha feito no início da sua carreira, na Maternidade Alfredo da Costa, em Lisboa, e percebeu que havia novas orientações, novos artigos, e muita informação que partilha no seu livro.
Durante a gravidez, convém não facilitar. Pratos ricos em vegetais, fruta da época, cereais integrais, leguminosas, alimentos com ómega 3. O álcool é totalmente desaconselhável, já que tem a capacidade de passar a placenta e acumular-se no líquido amniótico, o que prejudica a transferência de nutrientes e oxigénio para o bebé. “Não existe dose segura para o consumo de álcool na gravidez.” Depois do parto, mais cuidados. “O período pós-parto é uma hibernação. É essencial que, nesta fase, a alimentação satisfaça as suas necessidades, uma vez que são meses exigentes, sobretudo para quem amamenta.”
Maria Inês Antunes, pós-graduada em Nutrição em Pediatria, sugere uma alimentação prática e nutritiva para uma boa recuperação do parto, ter energia, satisfazer as alterações físicas e psicológicas, ajudar o corpo a recuperar a forma física. “A alimentação da mãe influencia a composição do leite e por isso é que é tão importante ter em atenção o que come e fazer escolhas acertadas”, vinca. “No entanto, relativamente à produção de leite, por exemplo, não existe até à data evidência de algum alimento que a aumente ou diminua.” Além disso, não existe igualmente demonstração científica de que um alimento específico crie gases e cólicas no bebé. É normal que isso aconteça porque o tubo digestivo do bebé é imaturo. No entanto, se há algum padrão de que um alimento cria uma reação no recém-nascido, então é melhor evitar esse consumo.
Resumindo e concluindo, ter um bebé no ventre não significa uma alimentação a dobrar. É necessário, todavia, cuidados redobrados com o que se ingere quando se gera um novo ser.
O que comer e o que evitar
● Preconceção: importante incluir na alimentação vegetais, frutas como abacaxi e papaia, frutos vermelhos, gengibre e curcuma, alimentos probióticos.
● Alimentos com propriedades anti-inflamatórias, cereais integrais e gorduras boas favorecem a fertilidade nas mulheres e a qualidade do sémen nos homens.
● Um peso desadequado e uma alimentação pobre em ingredientes nutritivos e rica em alimentos processados podem pôr em causa a fertilidade.
● Durante a gravidez, ovos, peixe gordo, carnes brancas, feijão, grão, favas, lentilhas, leite, queijo, fruta. Evitar leite e laticínios não pasteurizados, enchidos e fumados, marisco, enlatados, patês, peixes com alta concentração de mercúrio como peixe-espada, cação, tamboril.
● No pós-parto, abacate, nozes, azeite, frutos secos, peixes gordos como a cavala, a sardinha, o carapau e o salmão. Beber pelo menos dois litros de água por dia. Reduzir o açúcar e a cafeína.