Alexandra Plácido: no meio dos anfíbios

“A biodiversidade é a nossa farmácia”, diz Alexandra Plácido, 37 anos, natural de São Miguel, Açores (Foto: Leonel de Castro/Global Imagens)

Os anfíbios são a matéria viva das suas investigações pelas particularidades à flor da pele. É nas secreções cutâneas de rãs e salamandras que procura moléculas que possam ser aplicadas na saúde, no desenvolvimento de novos c e fármacos que combatam a diabetes, a leishmaniose e doenças neurodegenerativas, como Parkinson e Alzheimer. “A biodiversidade é a nossa farmácia. Vamos à natureza e extraímos moléculas que podem curar doenças.”

Alexandra Plácido, 37 anos, natural de São Miguel, Açores, é investigadora de pós-doutoramento na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto e no Laboratório Associado para a Química Verde. É também investigadora no i3S – Instituto de Investigação e Inovação em Saúde. Licenciou-se em Bioquímica na faculdade onde agora trabalha, fez um mestrado em Controlo da Qualidade na Faculdade de Farmácia do Porto e o doutoramento em Química Sustentável, seguindo a linha alimentar no desenvolvimento de biossensores para identificar organismos geneticamente modificados em alimentos.

Esteve mês e meio no Brasil, participou em expedições de investigadores que estudam o sangue dos jacarés e componentes de cobras. No final do doutoramento, criou, com outros colegas, a Bioprospectum, startup de bioprospeção que quer criar um banco de moléculas da biodiversidade ibero-americana. Anda sempre à espreita do que a natureza pode dar à saúde. “Ainda não valorizamos a biodiversidade em Portugal”, frisa.

E porquê os anfíbios? Por várias razões. São os animais vertebrados terrestres mais antigos e têm dois ciclos de vida. Vivem no meio aquático e no ambiente terrestre e quando passam da água para a terra produzem moléculas para se protegerem das ameaças, dos predadores. São moléculas antioxidantes e antimicrobianas que lhe interessam e a sua investigação foca-se nesse material anti-inflamatório para prevenir doenças. E não só. Essas moléculas podem chegar à área da cosmética, para tratamento da pele e travar o envelhecimento.

Mantém debaixo de olho duas espécies de rãs, a rã verde e a rã ibérica, e a salamandra de fogo, conhecida como salamandra de pintas amarelas. Os animais não são fechados em laboratórios. “Fazemos o trabalho de campo, usamos técnicas não invasivas, coletamos as secreções e o animal não sai do seu habitat.” Há resultados promissores e trabalho pela frente. “Cada passo demora algum tempo até chegarmos a um fármaco”, refere.

O porquê das coisas foi o rastilho da sua curiosidade. Desde miúda. “Sempre me interessei por ver e saber como tudo acontece, sempre gostei de investigar.” Não perdia a série “Ficheiros secretos” da dupla de agentes Mulder e Scully, dos anos 1990. Seguir pistas, ligar informações, investigar, descobrir. Tudo isso era fascinante. No liceu, a Biologia colocou-a em contacto com as moléculas e o interesse despertou. Deixou a ilha, veio para a faculdade no continente, e ficou. O Porto é agora a sua casa, as raízes estão nos Açores, e o cozido à portuguesa feito nas caldeiras das Furnas, em São Miguel, é o seu prato preferido.