Adão Silva: o montanhista

Adão Silva é o líder parlamentar do PSD (Ilustração: Mafalda Neves)

“Vou subir montanhas”, disse no dia em que completou 50 anos, começando pelo Pico açoriano. Seguiram-se algumas das mais desafiadoras escaladas: Ararate, na Turquia, Jbel, na cordilheira do Atlas, em Marrocos, Kilimanjaro, na Tanzânia. E, “por razões pessoais”, Ramalau, “uma brincadeira perto das outras”, porém o mais “sentido” e também por isso tantas vezes adiado. Só em 2019 cumpriu a promessa feita a si mesmo quando tinha seis anos, numa das muitas vezes que o pai, lavrador e bilheteiro de uma carreira regional transmontana, lhe falara do ponto mais alto de Timor-Leste.

O pai, que o queria padre. “Isto não é para mim”, decidiu aos 16 anos, referindo-se ao seminário. Escalar montanhas, sim. “Do ponto de vista da saúde física e mental foi a melhor decisão a minha vida.” Porque “o melhor de subir a um pico”, acrescenta, “é a possibilidade de o poder descer”.

A tarefa que aguarda Adão Silva na Assembleia da República, apesar dos muitos anos que leva de parlamento, só agora começou. E promete dificuldades. “Embora seja deputado dos mais antigos e tenha até passado pela direção parlamentar, não se lhe conhecem muitas ideias ou atividade”, dizem alguns social-democratas em off. Reconhecem-lhe “qualidades oratórias, como é comum em ex-seminaristas, e vocabulário profuso”, próprio de quem estudou literatura. “Não chega”, adicionam. “Para fazer um bom lugar, precisava de ter capacidade de liderança e de saber lidar com a pluralidade – e não sabe.” Atribuem-lhe, como exemplo de um “processo intimidatório”, a decisão de filmar a eleição para a presidência do grupo parlamentar.

Adão Silva irrita-se. “Que fique bem claro: não tive nada a ver com isso. Sou o contrário. Sempre disse que a diferença é o sopro da democracia. Quando os líderes não lidam bem com a diferença não lidam bem com a democracia.” Sobre os que o contestam, afirma: “Fazem muito bem. Serei para todos o que sempre fui – um indivíduo honesto, franco, discreto e com o comportamento digno de um companheiro”.

Na política tem uma paixão: a Segurança Social. Foi presidente do centro regional de Bragança, cargo que, reconhece, “é um marco” na sua vida. Não esquece o dia da nomeação: “24 de outubro de 1988”.

Ri quando os detratores o apodam de carreirista, “alguém que esteve com todos – com Barroso, com Passos, com Rio”. Pelo contrário, contrapõe. “Cheguei tarde à política ativa porque quis, primeiro, ter uma profissão. A política gera laços que por vezes não nos deixam ser livres. Por isso, entrei na política só depois de ser professor efetivo.” Em 1991, o corte de relações com Duarte Lima, então líder parlamentar, leva-o a regressar à escola. Por pouco tempo.

José Silvano, deputado e amigo antigo, releva a “seriedade, o rigor, a lealdade e a competência”. A escolha natural para o cargo “pela experiência e pelo conhecimento da dinâmica parlamentar”. O advogado admite: “À primeira vista, não é muito empático nem expansivo. Não tem grupos ou alinha em convívios”. Em Bragança, trata da relva, das árvores de fruto. Dos cães, o Jonas e o Messi, dois pastores transmontanos batizados assim pela filha, que ele pouco aprecia futebol, nem tem clube, apesar de “preferir que o F. C. Porto ganhe”.

Em Lisboa – “cidade que adoro” –, faz longos passeios. “Das Avenidas Novas ao Cais das Colunas, às sete da manhã, sempre em passo apressado.” Mas, apesar de gostar da cidade, foi a obrigatoriedade de passar a viver na capital que o fez hesitar perante o convite esperado de Rio. “Vou ter saudades de Trás-os-Montes, mas está assumido, está assumido.”

Adão José Fonseca Silva
Cargo: Presidente do grupo parlamentar do PSD
Nascimento: 01/10/1957(62 anos)
Nacionalidade: Portuguesa(Lagoa, Macedode Cavaleiros)