O que acontece ao nosso corpo quando levamos uma anestesia?

Por ano, em Portugal, perto de 600 mil pessoas são submetidas a uma intervenção cirúrgica com recurso à anestesia. É uma forma do corpo não sentir qualquer dor ou angústia quando está numa mesa de operações. O que se passa quando a anestesia faz efeito? Quantas anestesias pode um corpo aguentar ao longo da vida? O que fazer antes de uma anestesia?

“Uma anestesia é um estado em que há ausência de consciência induzida por medicamentos. A sensibilidade fica bloqueada, permitindo que as pessoas sejam submetidas a diversos procedimentos sem dor, angústia ou sofrimento”, explica à NM Alice Santos, assistente hospitalar graduada de Anestesiologia do Centro Hospitalar de São João, Porto. Durante esse tempo, é o médico anestesiologista que monitoriza e controla as funções vitais do paciente – o ritmo cardíaco, a respiração, a temperatura.

A anestesiologia é a especialidade médica que se dedica à manutenção do equilíbrio do organismo perturbado pelo stresse cirúrgico

Nos dias anteriores à anestesia é preciso ter alguns cuidados. Evitar fumar e ingerir bebidas alcoólicas. Na maioria das situações, é recomendado jejum de seis horas, permitindo-se apenas a ingestão de água e chá até duas horas antes do procedimento médico. A roupa a levar para o hospital deve ser confortável e quente.

Antes do ato anestésico, é fundamental que o paciente esteja informado e esclarecido. Saber, por exemplo, que o anestesiologista – médico que além da formação médica obrigatória tem, no mínimo, cinco anos de preparação específica em anestesiologia – permanece durante todo o procedimento para monitorizar e garantir a sua segurança. É responsável pelo tipo de soro a utilizar, pelo recurso a derivados de sangue, antibióticos e os medicamentos para tratar a dor, e ainda decide onde e como vai decorrer o período pós-operatório.

A conversa tem de ser esclarecedora e nada pode ser escondido. “Consciente que o médico anestesiologista é o ‘guardião’ do seu bem-estar e segurança, na consulta ou na visita pré-anestésica, o paciente deve ser sincero e informar sobre problemas de saúde, medicação diária, incluindo remédios naturais ou homeopáticos, uso de álcool ou drogas e possíveis reações pessoais ou familiares a anestesias anteriores”, refere a especialista.

A anestesiologia É um estado induzido por medicamentos, onde a sensibilidade e a dor são bloqueadas ou temporariamente removidas.

Não há um número estabelecido ou pré-definido de anestesias. Cada caso é um caso. “Um corpo aguentará as anestesias que forem necessárias para lhe proporcionar uma melhor saúde e qualidade de vida. O anestesiologista tem formação que lhe permite adaptar a anestesia a cada paciente e a diferentes cenários. No entanto, a anestesia só deve ser efetuada quando o benefício terapêutico for superior ao risco individual”, adianta Alice Santos. Nos extremos etários, esse critério deve ser absolutamente respeitado, uma vez que as crianças têm um sistema nervoso central ainda em desenvolvimento e os idosos apresentam alterações fisiológicas que resultam na diminuição da função dos órgãos.

A anestesia, como qualquer outro procedimento médico, envolve riscos. No entanto, em pessoas saudáveis ou sem doença grave o risco de um evento anestésico grave, durante uma cirurgia, é muito reduzido. Segundo Alice Santos, os equipamentos e os medicamentos atualmente disponíveis permitem um elevado controlo sobre as funções vitais do paciente e agir rapidamente caso surja algum problema. “Os riscos que podem ocorrer resultam do efeito de medicamentos anestésicos, de doenças que o paciente apresenta (como doenças cardiorrespiratórias ou alergias) e/ou da complexidade da cirurgia”.

Conhecendo a história clínica de cada doente, o anestesiologista poderá mais eficazmente prevenir e tratar qualquer complicação.

No bloco operatório, o tipo de anestesia é adequado ao paciente e à cirurgia. Há diferentes tipos de anestésicos que permitem diferentes anestesias. “A anestesia geral condiciona uma ausência total de consciência, ocorrendo hipnose, perda de reflexos, imobilidade e analgesia”. E, na maioria dos casos, a respiração é efetuada através de um ventilador. “Quando acaba a cirurgia, interrompe-se a administração dos anestésicos e, se necessário, administram-se medicamentos que ajudam os músculos a recuperar a força. É sempre reforçada a analgesia através de diferentes fármacos para reduzir a dor no período pós-operatório”, diz Alice Santos.

A anestesia pode ser realizada através da injeção de medicamentos numa veia, a anestesia geral endovenosa, ou então através da inalação de gases anestésicos, a anestesia geral inalatória. Mas, na maioria das vezes, utilizam-se ambas as técnicas, a chamada anestesia geral balanceada. Além das cirurgias, há diferentes técnicas anestésicas que podem ser efetuadas para realização de exames de diagnóstico: endoscopias digestivas, alívio da dor de parto e de dor resultante de traumatismo, e ainda dor crónica.

O médico anestesiologista pode efetuar a sedação para diferentes procedimentos. A sedação reduz a ansiedade do paciente e permite que seja submetido confortavelmente à cirurgia ou a um exame. Pode ser efetuada por via endovenosa ou por via inalatória. No bloco operatório é habitualmente associada a anestesia regional, ficando o doente “alienado” do ambiente à sua volta.

A anestesia local é uma técnica de infiltração de fármacos para tornar a área anatómica pretendida insensível, como que “dormente”. É frequentemente utilizada para anestesiar a pele antes de efetuar anestesia regional quando o paciente está acordado. E frequentemente são usados anestésicos locais que podem ser injetados de uma só vez ou administrados continuamente através da colocação de um cateter.