A vacina, o botão de pânico e Marcelo Rebelo de Sousa

Rubrica "Partida, largada, fugida", de Susana Romana.
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Esta semana tivemos novo estado de emergência, numa saga com mais sequelas indesejadas do que os 843 filmes do “academia de polícia”. O plano de contingência vai até dia 23, com promessas de Costa de que aliviará as regras para o Natal. É como aquelas dietas nas quais a pessoa anda 364 dias a comer aipo e água das pedras para depois tirar um dia para injetar banha de porco diretamente nas veias. Vamos ver que resultado dá.
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Na verdade, estes planos para fazermos um Natal à 2019 em 2020 podem sair gorados. Na próxima sexta, dia 18, Costa pode colocar um travão a esta brandura se os números da pandemia continuarem no vermelho. Coitados dos Reis Magos, pendurados mais uma semana sem saber se compram o bilhete do Intercidades.
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Entretanto, o Reino Unido começou o seu plano de vacinação. A primeira pessoa no Mundo a receber vacina da Pfizer/BioNTech contra a covid-19 chama-se Margaret e tem 90 anos. Foi um momento histórico, mas podia ter sido mais icónico se a Margaret o tivesse feito em tronco nu, Marcelo style.
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Já o primeiro homem a ser vacinado tem o pomposo nome de William Shakespeare. O que faz todo o sentido, porque andámos quase um ano a gritar “o meu reino por uma vacina”. Mas de resto foi só uma coincidência, escusam de mudar o vosso nome para Almeida Garrett para passarem à frente na fila.
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Em Portugal, os virologistas esclareceram que não é preciso ter medo da vacina. Concordo. Somos dos países que mais consomem antibióticos. Automedicamo-nos constantemente. Temos orgulho em comer em tascas sebosas. Temos um número de fumadores acima da média europeia. Bebemos shots em festas que nem sabemos ao certo o que tinham. E quando os maiores especialistas no Mundo se juntam para fazer a vacina para a covid-19 – sendo que têm tudo a perder se isto der raia – dizemos “eu não meto porcarias no meu corpo que não sei o que é que fazem”. Tá.
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Marcelo Rebelo de Sousa chocou rigorosamente zero pessoas ao anunciar que se recandidata ao cargo de presidente da República. O anúncio foi feito numa pastelaria de Lisboa. Espero que tenha pedido um palmier coberto, em homenagem ao cobrimento que terá dado ao caso de Tancos.
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Todo o discurso de recandidatura durou uns escassos oito minutos. Quase tanto tempo como Marcelo demorava a ler aqueles livros sobre “Os Mais Belos Azulejos de Algueirão Mem Martins” que mostrava nos comentários de domingo.
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A trágica morte de um cidadão ucraniano da sala do SEF do aeroporto de Lisboa foi afinal miraculosamente vingada: daqui para a frente, todos os estrangeiros que estejam a apanhar porrada vão poder carregar num botão de pânico. Que momento de belo humanismo. Quando eles carregam, sendo o aeroporto, aparece uma hospedeira com uma mantinha e um café de saco, para ter forças para o próximo round.