A TAP e o plano de reestruturação

Três mil milhões para salvar a TAP
Afinal, parece que os 1,2 mil milhões de euros já previstos poderão não ser suficientes para salvar a TAP. O plano de reestruturação que o Governo aprovou e apresentou esta semana aos partidos e à Comissão Europeia prevê um aumento significativo do apoio estatal à transportadora, podendo ultrapassar os três mil milhões de euros até 2024. A injeção adicional poderá obrigar a um Orçamento retificativo, alerta a Oposição. O plano, exigido por Bruxelas, contempla também despedimentos, cortes salariais e redução da frota. O objetivo do Governo é convencer a Comissão Europeia de que assim consegue assegurar a sobrevivência da TAP. E, tal como aconteceu com os apoios ao Novo Banco, o tema não vai a aprovação no Parlamento.

Frota
Em setembro, a TAP tinha 101 aviões, incluindo as 13 aeronaves da Portugália. Em 2019, eram 105. O objetivo é reduzir para 88 no próximo ano e depois aumentar gradualmente o número até 101 aparelhos em 2025.

Plano de cortes

Despedir dois mil trabalhadores
Segundo informações dos sindicatos, o plano prevê o despedimento de dois mil funcionários (500 pilotos, 750 tripulantes de cabine e 750 trabalhadores de terra). Objetivo: reduzir despesa com pessoal em 300 milhões já em 2021.

Saída “voluntária” de 1 500 este ano
Entre precários e temporários, este ano, abandonam a empresa 1 500 pessoas, segundo os sindicatos. No comunicado aos trabalhadores, a Administração refere que , numa primeira fase, vai recorrer a rescisões por mútuo acordo, mas não esconde que poderá haver a “necessidade de outras medidas”. A palavra despedimentos não é usada.

Reduzir 25% nos salários
Está prevista a redução de 25% da massa salarial do grupo. Dos cortes só estarão a salvo os salários mais baixos.

Diminuir a frota e as rotas
Para reduzir as despesas, nomeadamente o leasing operacional, vai ser preciso emagrecer a frota (atualmente, a TAP tem 101 aeronaves). Menos aviões significa menos rotas, no Porto e em Lisboa, e menos voos.

Prejuízos avultados antes da covid-19
Outras companhias de bandeira, como a Lufthansa ou a Air France/KLM, beneficiaram de apoio estatal sem necessidade de aval de Bruxelas, porque os prejuízos decorriam apenas da pandemia. No caso da TAP, os graves problemas financeiros são anteriores: em 2019, o prejuízo do grupo foi de 105,6 milhões de euros, dos quais 95,6 milhões da TAP SA.

84% quebra do número de passageiros
Entre março e outubro, a TAP transportou menos 11 milhões de passageiros face ao mesmo período de 2019, segundo a ANAC.

700 milhões
Nos primeiros nove meses deste ano, a TAP SGPS teve um prejuízo de 700,6 milhões de euros, depois de acumular mais 118,7 milhões de perdas no terceiro trimestre.

72,5% detidos pelo Estado
Depois de ficar com a posição de David Neelman, o Estado consolidou a posição na empresa.

9006 trabalhadores
No ano passado, a TAP SA (exclui empresas do grupo TAP SGPS) tinha nove mil funcionários, segundo o Sitava. O pessoal representa um custo de 751 milhões de euros – a segunda rubrica com maior peso na despesa, a seguir ao combustível.

198
slides compõem o plano de reestruturação da TAP, que não foi divulgado. Em reunião com sindicatos, a Administração terá proposto o acesso a 12 slides, mediante um acordo de confidencialidade por dez anos. Os representantes dos trabalhadores recusaram. O Governo apresentou o plano aos partidos com assento parlamentar antes de o entregar em Bruxelas.