É uma fase inevitável na vida de uma mulher. Não é uma doença. Apesar dos sinais e dos calores, é possível atravessá-la com tranquilidade e autoestima. De cara levantada.
Há cinco anos, Fátima Lopes, apresentadora de televisão, começou a sentir afrontamentos, andava mais cansada, os resultados das análises indiciavam que estaria na menopausa, a médica explicou-lhe que a condição poderia ser transitória e não definitiva. Foi o que aconteceu. Os sintomas desapareceram, repetiu os exames, os valores estavam normais, não havia sinais de menopausa. “Até este exato instante ainda não voltaram. Portanto, os sinais normais desta nova etapa da vida ainda não surgiram, mas tendo em conta a minha idade e que, por norma, [a menopausa] surge entre os 51 e os 55, eu estou dentro desse intervalo de tempo.” Fátima Lopes tem 51 anos.
Quando os calores surgiram, procurou imediatamente a sua ginecologista. Falaram sobre o assunto, de possíveis soluções futuras, esclareceram-se dúvidas. Hoje, apesar do ritmo normal do dia a dia, e de ainda não haver um diagnóstico de menopausa, Fátima Lopes está munida de informação e acredita que é possível viver essa fase com tranquilidade. “Não adianta nada, nem nos ajuda, fazer uma programação negativa da menopausa, e isto passa por não ouvir as experiências dos outros como se fossem as nossas experiências. Ouvir aquelas pessoas que passaram horrores, que sofreram muito, e achar que é isso que nos vai acontecer só vai dificultar o que quer que tenhamos de viver nessa altura.” A ouvir, então que se ouçam as mulheres que passaram pela menopausa com calma e um sorriso nos lábios.
Pragmatismo acima de tudo. Prevenção também. “Procuro levar um estilo de vida saudável, fazer uma alimentação saudável, exercício físico, faço meditação, cuido de mim.” A apresentadora de televisão está preparada para o que aí vem. A menopausa é, em seu entender, um período sem pausa. No bom sentido. “Ou seja, não temos de fazer pausa na nossa alegria de viver. Não temos de fazer pausa na nossa capacidade de fazer acontecer. Não temos de fazer pausa na nossa capacidade de amar e de nos deixarmos amar. Não temos de fazer pausa na sexualidade. Não temos de fazer pausa na nossa beleza, na nossa sensualidade.”
O rótulo de uma mulher acabada e triste passou à história. “Está tudo nas nossas cabeças, na nossa autoestima e na forma como nos amamos e nos queremos. Se nos consideramos bonitas, interessantes, sensuais e mulheres cativantes em qualquer idade, é assim que os outros também nos vão ler. Se olhamos para nós e achamos que estamos acabadas, também é assim que os outros nos vão ler.”
Adelaide Caldeira tinha 50 anos quando começou a sentir os sinais. Afrontamentos, irregularidades menstruais, irritabilidade, mais peso na balança. “No início foi um bocadinho estranho, a menopausa é muito pouco falada”, recorda. Pesquisou, investigou, queria saber mais, estar preparada, e decidiu contar o que se passava lá em casa. “Sabia que ia ficar mais irritadiça e que ia entrar numa fase complicada. Falei com o meu marido e com o meu filho, que acompanham a minha menopausa. Tenho um grande apoio familiar.” É um suporte imprescindível.
Diminuição da autoestima? Adelaide Caldeira, hoje com 53 anos, empresária no ramo da energia, preferiu ver o outro lado. Ganhou peso, passou a fazer mais exercício. Aos afrontamentos respondeu com reposição hormonal. “Faço desporto para controlar o peso, tenho cuidado com a alimentação, arranjo-me tão bem ou melhor do que antes. Continuo a ser uma mulher com muita vida.” E não há nada que não se resolva. “Para o que de menos bom a menopausa nos traz há sempre uma solução. A menopausa não é uma doença.”
Saber para não sofrer
A menopausa é a última menstruação, o fim da fase reprodutiva da mulher. É inevitável e acontece, em média, por volta dos 50 anos. Os primeiros sinais podem aparecer alguns anos antes como um aviso de que o corpo está a mudar. Os sintomas diferem de mulher para mulher. Há as que garantem que não se passa nada e as que sentem que o mundo desabou. Os afrontamentos, por exemplo, verificam-se em mais de 70% das mulheres, mas em apenas 30% sucedem-se de forma intensa e recorrente.
É uma etapa que corresponde à falência ovárica, à diminuição da produção de estrogénios, à incapacidade de engravidar. Patrícia Pinto, especialista em ginecologia-obstetrícia na Maternidade Alfredo da Costa, em Lisboa, defende que a falta de estrogénios é a causa principal da maioria dos sintomas, nomeadamente os vasomotores, alterações no sono e cutâneas. “Estão também associados à menopausa alterações na memória, na concentração e sintomas depressivos.” A depressão é um dos sinais mais difíceis de avaliar até porque, sublinha, “é frequente durante o período da perimenopausa a ocorrência de grandes alterações de vida, como mudanças profissionais e alterações no agregado familiar, com a saída dos filhos de casa e a adaptação conjugal”.
A chegar aos 50, Cristina Mesquita de Oliveira, agora com 55 anos, profissional da indústria farmacêutica, sentiu os primeiros sintomas: calores repentinos acima da cintura, irregularidades menstruais, menos vontade de exercício físico. Falou com uma amiga, percebeu que poderia ser a menopausa, pesquisou no Google e assustou-se. Fraldas para a incontinência, hospitais e clínicas, produtos para o envelhecimento. “Parecia um filme de terror”, lembra. Tudo isso foi o motor para criar, há um ano, o grupo MDP – Menopausa Divertida Portugal no Facebook (do qual Adelaide Caldeira faz parte), a página Desliga a Menopausa e md_menopausadivertida no Instagram. Num ano, reuniu à volta de 20 mil mulheres de várias partes do Mundo. A Vida´S – Associação Portuguesa de Menopausa também está nas suas mãos e prestes a ter corpo legal. E para hoje, domingo 18, está marcada a Caminhada Virtual 51 Minutos pela Menopausa, das 10 às 10.51 horas, nas redes sociais e com desafios que o MDP vai lançar.
A mulher do século XXI vive a menopausa de maneira diferente da sua mãe e avó. “O que nos chega sobre esta nova fase da vida, e a cola a doença para ser tratada, não nos serve. A menopausa não é uma doença. É uma fase natural e precisa de ser vivida de forma séria, leve e informada, para que seja possível fazer escolhas acertadas e convenientes”, diz Cristina Mesquita de Oliveira. Por isso, o movimento é agora a associação. “Queremos ser ouvidas. De mulher para mulher. Entre nós, arrumamos a nossa cabeça, damos conta que o que vivemos é comum e natural, arranjamos coragem necessária para sentirmos que, afinal, não há motivo para a vida não continuar a sorrir por estarmos em menopausa.” Não baixar os braços, não sentir o chão a fugir debaixo dos pés. Nada disso. “Somos nós as protagonistas da nossa menopausa. Não estamos doentes. Não somos velhas, feias, irritadas e cheias de calor. Somos lindas, plenas de sonhos para concretizar e de vontade de futuro.”
Vida sexual, pele seca, sono
A vida sexual é outra questão da menopausa e as alterações variam entre mulheres. Segundo Patrícia Brito, algumas mulheres falam de uma diminuição da libido que leva a uma redução da atividade sexual. “Adicionalmente, e muitas vezes numa fase mais avançada, queixas como falta de lubrificação, atrofia e dor durante as relações sexuais são frequentes. As diferentes alterações levam a uma menor satisfação com a vida sexual em algumas mulheres, mas não em todas.” A especialista em ginecologia-obstetrícia realça: “Novamente a intensidade dos sintomas, mas também a atitude da mulher relativamente às alterações físicas que sente, são preponderantes na sua avaliação da qualidade de vida”.
Também há a questão do sono. “As interferências no sono, dormir pior, acordar com o calor, passar a noite a tapar-se e a destapar-se são dos primeiros sinais”, adianta Lisa Vicente, ginecologista, obstetra especializada em Medicina Sexual, membro da Sociedade Portuguesa de Sexologia Clínica. O tema das alterações na lubrificação, a que se junta uma pele mais seca na vulva, é retomado. “Muitas vezes perde-se o desejo e a satisfação sexual e admite-se que isso é o esperado. Temos de mudar esse paradigma.” Isto porque, avisa, “há razões que justificam a diminuição do desejo e que podem ser modificáveis.” Ao nível da lubrificação, por exemplo. “É importante melhorar a mucosa, a hidratação, para que sintam mais vontade em ter relações sexuais.”
A menopausa tem especificidades que têm de ser conhecidas para saber lidar com ela e não sofrer. “É importante procurar ajuda porque há formas de resolver várias situações”, alerta a ginecologista. Atualmente, há várias opções terapêuticas, não necessariamente hormonais.
É um momento de transição que deve ser vivido de forma acompanhada. Partilhar com o companheiro e amigas, procurar ajuda profissional quando a qualidade de vida é afetada. “Uma alimentação saudável, a prática regular de exercício físico e uma vida social e conjugal satisfatórias proporcionam uma base sólida para vivenciar de forma positiva as diferentes alterações”, refere Patrícia Brito. De cabeça levantada, sempre.
Pistas para um novo ciclo
● É um processo biológico natural na vida da mulher. Só após 12 meses consecutivos sem período menstrual é que se designa como menopausa.
● Aceitar que é uma etapa da vida. Perceber sinais, conhecer o corpo, procurar ajuda. Falar com a família. Este não é um assunto só de mulheres.
● Sintomas. Ciclos menstruais irregulares. Afrontamentos, calores intensos. Irritabilidade, tristeza, ansiedade. Mudanças de humor radicais. Dores de cabeça. Transtornos de sono. Falta de concentração. Má memória.
● Secura geral devido à descida do colagénio. Secura vaginal. Pele com menos brilho. Cabelo mais seco. Unhas mais frágeis e quebradiças.
● Sangramentos escassos ou muito abundantes. Grandes variações no fluxo menstrual.
● O peso pode aumentar porque o metabolismo fica mais lento.
● Praticar exercício físico, ter uma alimentação equilibrada, reduzir o stresse, não esquecer uma vida social e conjugal satisfatória.
● Amar-se, cuidar-se, estimar-se. Quanto mais assim for, mais os outros veem esse brilho, independentemente da idade.