Habituado a projetar tendências, Carlos Gil não hesitou ao imaginar o verão de 2048. O designer do Fundão sublinha que “a visão da moda para o futuro leva-nos ao encontro das novas tecnologias”. A estética minimalista antecipa uma estação limpa, numa ânsia de tempos mais tranquilos. Elegante e com personalidade.
Nascido em Nampula, Moçambique, no final da década de 1960, Carlos habituou-se desde cedo a ver além da linha do horizonte. E ter crescido na Beira Baixa, já em Portugal, não lhe limitou a curiosidade. Por isso, há muito percebeu que “a técnica de impressão 3D é um processo que vai além do pensamento” e não duvida ser este o futuro da moda, em que “os limites serão apenas os da imaginação”. Foi com recurso à perspetiva tridimensional que criou, tal como um puzzle, um vestido composto por 28 vértices, “que celebram os nossos/vossos 28 anos”, explica, numa alusão ao aniversário da NM.
Com o tempo, Carlos Gil acredita que o 3D “se irá tornar mais acessível e industrializado, convertendo-se numa mais-valia para o mundo da moda e para o meio ambiente”. Uma consciência que o criador já espelha na coleção à venda na atualidade. No ateliê da Avenida da Liberdade, no Fundão, as clientes voltaram a procurar os seus serviços, após o desconfinamento.
É um ano mais velha do que esta revista e preserva a audácia da juventude, misturada com a maturidade de quem sabe o que faz. A Inês Torcato não pesa o facto de ser filha do também designer Júlio Torcato, e é a solo que vai trilhando caminho, num registo único e coerente, mesmo quando tem de avançar o calendário quase três décadas.
Inês sabe que “a moda é cíclica”, significando que, “de tempos a tempos, voltamos a gostar de coisas que já tínhamos gostado e deixado de gostar”. “Os ciclos estéticos acontecem naturalmente e trazem associada muita energia da época”, afirma a designer, justificando a sugestão para o verão 2048, abraçando os sexos feminino e masculino. Afinal, sempre apostou em “peças sem género”, e o futuro não será diferente. Mais do que aquilo que a moda dita, imagina “um mundo onde a roupa que vestimos é aquela que reflete quem somos. É roupa livre”.
Numa viagem também em marcha-atrás, Inês Torcato revive os anos 70 do século passado, os mesmos que inspiram o presente e que ela afirma como tendência para os dias mais quentes em 2048. No entanto, “sugiro que o façamos no seu conceito: a paz e o amor; o espírito fraterno de união, a comunhão com o mundo e com a natureza”. Desafiando a que “regressemos ao simples, a que sejamos nós próprios”. “Vejo a moda como um veículo desta nova simplicidade, em que procuramos peças com bons materiais, biodegradáveis, recicláveis ou de produção local e que duram uma vida sem danificar o planeta”.
A formação em Belas-Artes deixa Inês Torcato levar-se pela “pluralidade” que a moda pode englobar, oferecendo uma visão para lá da roupa e que lhe permite projetar ideias para um espaço temporal ainda longínquo.