
Por Ana Tulha
Para perceber a missão atual de Vítor Hugo Teixeira, amarantino de 47 anos que integra a equipa de cientistas do laboratório “Lungs for Living”, da University College London (UCL), é preciso recuar uns dez anos, até às férias que passou com a namorada (hoje esposa), em Londres. Na altura, andava ele a fazer o doutoramento em Paris, aproveitou a estadia para assistir a uma palestra do professor Sam Janes sobre cancro do pulmão, na UCL. “Fiquei fascinado. Depois de várias conversas e e-mails trocados, o professor ofereceu-me uma posição de cientista no seu laboratório”, recorda. Não podia recusar.
Para trás, ficava um projeto de investigação ligado ao estudo genético da artrite reumatoide, a que se dedicou durante o doutoramento. Desde então, foca atenções no cancro do pulmão, com um objetivo claro: abrir portas ao diagnóstico precoce. Até porque, salienta o cientista, o cancro do pulmão é o mais frequente no Mundo e o segundo mais mortal em Portugal, com o aparecimento de quatro mil novos casos a cada ano. Metade destes doentes morre durante os primeiros 12 meses da doença. Antecipar o diagnóstico é, por isso, fundamental. Como?
A equipa de Vítor Hugo Teixeira já deu alguns passos nesse sentido. Primeiro, importa perceber que, antes do desenvolvimento de um cancro do pulmão, os pacientes têm pequenas lesões, inicialmente confinadas às vias respiratórias. São os chamados “carcinoma in situ”. Ora, uma das conclusões desta equipa de cientistas é que metade dessas lesões evolui para cancro do pulmão (enquanto a outra metade desaparece ou se torna benigna).
Estes investigadores conseguiram ainda identificar diferentes “assinaturas genéticas”, consoante as mazelas. “Estas assinaturas são tão diferentes que podemos prever com enorme especificidade quais são as lesões que irão desenvolver o cancro do pulmão”, resume. Segue-se um ensaio clínico em pacientes com carcinomas in situ, para validar as tais assinaturas.
E o trabalho de Vítor não fica por aqui. Além de ser o diretor de um mestrado em Medicina Respiratória, que arrancará na UCL no próximo ano, o português tem-se dedicado a tentar decifrar o perfil imunológico das tais lesões pré-cancerosas do pulmão, com a meta última de perceber se a imunoterapia pode ser utilizada na fase pré-cancerosa, destruindo assim o cancro ainda numa fase inicial. “Adorava que a nossa investigação contribuísse para a erradicação da doença. Ou para que este cancro pudesse ser tratado como uma doença crónica”, atira, auspicioso.